O dia 17 de novembro representa o Dia Nacional de Combate à Tuberculose, uma data que representa uma mobilização mundial que objetiva mobilizar e conscientizar a população sobre a doença e suas ações de prevenção e controle.

A tuberculose ainda existe no nosso meio e é considerada um problema de saúde pública, embora muitas pessoas acreditem que seja uma doença do passado. Antigamente, a doença era atribuída a um mal, sendo compreendida como uma condenação ou um castigo divino. A tuberculose por muito tempo esteve associada a uma vida desregrada, ligada à boemia. Com isto, criaram-se tabus e crenças a seu respeito que até hoje refletem no controle da doença, tais como estigma, preconceito e discriminação.

Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), um quarto da população mundial está infectada pelo Mycobacterium tuberculosis e está em risco de desenvolver a doença. Em 2019, foram notificados 7,1 milhões de casos de tuberculose no mundo. O Brasil faz parte dos 30 países com maior carga de tuberculose, tendo notificado no mesmo ano, 73.864 casos novos, o que representa um coeficiente de incidência de 35 casos/100 mil habitantes.

Nesta data tão importante para o controle da Tuberculose, o Observatório Institucional da Escola de Enfermagem conversou com a Professora Paula Hino, do Departamento de Saúde Coletiva da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (EPE/Unifesp). A professora foi membro do Comitê Técnico Assessor à Tuberculose do Ministério da Saúde. Em caso de interesse de pesquisa na área  entre em contato com a professora através do e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

 

Observatório EPE: Você pode nos falar um pouquinho sobre o dia da tuberculose?

Professora Paula: O dia 17 de novembro, é o dia nacional de combate à tuberculose, que representa um dia para chamar a atenção da população para refletir sobre a tuberculose, que é uma doença que infelizmente ainda existe em nosso meio. Acontece nos dias atuais, apesar de que muitas pessoas ainda pensam que é uma doença do passado. E essas duas datas, 24 de março e 17 de novembro, são dias que representam uma mobilização que tem como objetivo conscientizar a população sobre a tuberculose.

Observatório EPE:  Qual é o trabalho da enfermagem no combate à tuberculose?

Professora Paula:  A enfermagem tem um papel primordial nas ações de combate e eliminação da tuberculose. Desde a prevenção da doença, incluindo a  busca ativa de pessoas com sinais e sintomas respiratórios, e o tratamento da tuberculose, que é um tratamento longo, a pessoa passa cerca de seis meses tomando a medicação. Dessa forma,  o vínculo que os profissionais da enfermagem constroem, estabelecem com esse usuário e a sua família, é primordial para adesão ao tratamento.  Desde o momento em que a pessoa procura o serviço de saúde com a suspeita da tuberculose, a enfermagem já possui um papel de investigação.
Se for estabelecido o diagnóstico da tuberculose, o profissional realiza o acolhimento da pessoa e da família,  esclarecendo o que é a doença, a importância da realização do tratamento, a necessidade de investigação dos contatos, entre outros.

Observatório EPE:  Quais são os  fatores de risco e prevenção?

Professora Paula: A Organização Mundial da Saúde estima que um quarto da população está infectada pelo Mycobacterium tuberculosis.  Não quer dizer que as pessoas estão doentes, mas sim que estão infectadas pelo bacilo. O que isso quer dizer? Que em algum momento da vida, esse bacilo que está dormindo pode se manifestar e a doença se instalar. Lembrando que o indivíduo com baciloscopia de escarro positiva pode chegar a infectar de 10 a 15 pessoas ao ano e que dessas pessoas infectadas, só 10% vão adoecer, sendo 5% nos primeiros dois anos e os outros 5% ao longo da vida. Vale dizer que o Brasil está entre os 30 países com maior carga de tuberculose e também maior caso de co-infecção de tuberculose e HIV.

Observatório EPE: Quais são os desafios relacionados ao tratamento e ao combate da tuberculose nesse momento? Como é essa chegada do paciente até o profissional?  

Professora Paula: Eu acho importante falar um pouco sobre a pandemia que ainda está em curso. Infelizmente, a pandemia da covid-19 impactou, repercutiu  nas ações de controle da tuberculose. E se fala de um retrocesso nas ações de controle da doença que já tinham sido atingidas. Lembrando que a pandemia que teve início em 2020, e quando olhamos os dados epidemiológicos, já pode se observar uma queda dos casos de tuberculose em 2020, 2021. Agora é que tem sido observado um aumento maior dos diagnósticos.
A doença não deixou de existir com a pandemia, mas pelo fatoo de alguns sinais e sintomas serem parecidos com os da  Covid-19, se passou a pensar só na possibilidade da Covid. O olhar da saúde  era todo voltado para covid e a  tuberculose acabou ficando  um pouco de lado. Isso é refletido pelos dados epidemiológicos: Até 2019 a tuberculose era a primeira causa de óbito por um único agente infeccioso, tendo sido desde 2020 ultrapassada pela covid-19. O coeficiente de incidência da tuberculose em 2019 era de 37,1 casos por 100 mil habitantes. Esse número baixou para 32,6 em 2020, e em 2021 para 32.
Isto não quer dizer que os casos de tuberculose diminuíram, o que aconteceu foi que , ocorreu uma subnotificação da doença, ou seja, houve diminuição dos casos da doença.
Existe um compromisso político por parte do Ministério da Saúde de eliminação da tuberculose. Também  foram  publicados vários materiais relacionados ao enfrentamento da tuberculose, inclusive durante a pandemia da Covid-19. O Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose como Problema de Saúde Pública, lançado em 2021 traz essa questão da preocupação com as repercussões da pandemia da covid-19.
Em relação à enfermagem, existem também materiais voltados para tuberculose. Um exemplo é a Tuberculose na Atenção Primária à Saúde, que é um protocolo de enfermagem.
Eu pude colaborar junto com outras colegas da  elaboração de um capítulo relacionado ao acolhimento e classificação de risco para tuberculose na Atenção Primária à Saúde. Neste capítulo nós pensamos em um fluxograma para facilitar  esse fluxo, diminuir a  permanência da pessoa com mais sinais e sintomas da tuberculose no serviço de saúde, a fim de evitar a contaminação de outras pessoas.
Então, por exemplo, não deixar a pessoa esperando muito tempo, já providenciar uma consulta rapidamente  e evitar que essa pessoa fique na sala de espera com outras pessoas.
Também existe um outro material voltado para enfermagem, que é relacionado à assistência do enfermeiro à pessoa com tuberculose na Atenção Primária.  Essa é uma publicação de 2021 e o protocolo foi desse ano, ou seja, de 2022.  Então, existe um movimento por parte do Ministério da Saúde de pensar e destacar o papel da enfermagem nesse protagonismo no controle da tuberculose.