Durante o mês de Novembro,  segundo o calendário proposto pelo Ministério da Saúde, é realizada a campanha do Novembro Azul, que tem como objetivo promover mais atenção à saúde masculina. O Observatório InEPE conversou com o professor doutor Hugo Fernandes, que integra o Departamento de Saúde Coletiva da Escola Paulista de Enfermagem/UNIFESP, com o intuito de saber mais e divulgar a campanha do Novembro Azul.
Segundo o professor, a campanha é conhecida internacionalmente como Movember e foi realizada inicialmente na Austrália, mas atualmente assumiu proporções mundiais. O cuidado com a saúde masculina está envolto de muitos preconceitos na sociedade brasileira que se torna um empecilho na adesão dos homens à campanha. Para o professor, isso tem relação direta com a cultura machista e sexista envolvida na sociedade, que se reflete na realização de exames preventivos para o câncer de próstata.
Esse mês tem o intuito principal de alertar sobre o câncer de próstata, o segundo tipo de câncer com maior incidência em homens atrás apenas do câncer de pulmão, porém, o professor nos lembra que se faz necessário dar atenção a saúde mental, saúde sexual e planejamento familiar, por exemplo, porque por meio da procura de prevenção ao câncer de próstata é possível aproveitar o ensejo para cuidar das outras áreas de saúde desse público. 

 

Observatório InEPE:  Nos fale sobre a importância do mês de Novembro. Os desafios, como ultrapassá-los, o que pode ser feito para transformar o cenário que temos em relação ao câncer de próstata. Os fatores de risco para os homens, os hábitos saudáveis que eles possam desenvolver. E a questão da violência, quais os desafios que o senhor percebe em relação à violência. Sabemos que você fez uma pesquisa sobre violência com os estudantes de Enfermagem e a gente queria saber um pouco os principais resultados dessa pesquisa. Então onde uma mulher deve ir para denunciar, o enfermeiro pode tentar identificar se a mulher está sofrendo violência e quais serviços existem para acolher essa mulher.

Profº Drº Hugo Fernandes:  Bom, Júlia, novamente muito obrigado pelo convite. Gostaria de agradecer também à professora Girliani, que é a coordenadora do Observatório Institucional de Enfermagem.
Fico muito feliz de poder falar de um tema tão importante, tão sensível para nós homens, mas de uma maneira geral para toda a sociedade, que é sobre o Novembro Azul.

 

[A importância e os desafios do Novembro Azul]
O Novembro Azul não é uma iniciativa brasileira, é uma iniciativa que surgiu na Austrália há mais de 20 anos. Não se sabe exatamente se foi em 2003 ou 2004, mas surgiu por meio de uma fundação australiana com objetivo de conscientizar os homens sobre a sua saúde, de uma maneira geral. Principalmente para tentar reduzir os índices de câncer de próstata. E em países industrializados, como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Inglaterra, já se constitui como o segundo câncer que mais mata os homens. Ficando atrás apenas do câncer de pulmão. O câncer de pulmão sempre esteve em primeiro e em segundo nós temos o câncer de próstata.

Lembrando que o câncer de próstata tem essa letalidade relativamente alta quando demora-se demais para descobrir. Então quando ele em geral já tem metástase ou quando já há um grande comprometimento, uma grande infiltração dos órgãos geniturinários acessórios, como a bexiga, por exemplo.

Então, este movimento, que no Brasil é chamado de Novembro Azul, é, na grande parte do mundo, chamado de Movember, com M. Porque a letra M substitui o N porque a letra M de man (homem). Então é um mês destinado inteiro às estratégias de prevenção e controle de doenças que possam acometer os homens. É sempre dada muita ênfase à próstata, porém é um mês de conscientização sobre a saúde do homem, não apenas do câncer de próstata.

Fala-se muito dele por ser realmente o segundo mais letal para nós, homens. Mas também são abordadas outras temáticas, como por exemplo: direitos sexuais e reprodutivos; a saúde mental do homem, como depressão e ansiedade;  planejamento familiar; a saúde do trabalhador, tendo em vista que, assim como as mulheres, o homem participa ativamente da economia. Então não é apenas para falar a respeito do câncer de próstata. Na verdade é para falar sobre a saúde do homem. O câncer de próstata recebe o plano de fundo porque  ele ainda é muito importante e é o momento de aproveitar a oportunidade de discutir sobre isso.

Junto com essas discussões a respeito da saúde sexual masculina, também temos que abordar outras temáticas sensíveis, como por exemplo a violência de gênero,  violência contra a mulher. Tendo em vista que são os homens os principais perpetradores, os principais agressores, principalmente na violência doméstica. Então é interessante que nós profissionais de saúde aproveitemos este momento para abordar todas essas condições, saúde física e saúde mental dos homens, mas também para discutir algumas temáticas mais sensíveis, como a violência contra a mulher, visto que os homens são os principais perpetradores.
Nós temos muitos desafios em relação ao Movember, ao mês do Novembro Azul. Um dos principais desafios, especialmente da atenção primária, é tentar fazer com que o homem chegue à Unidade Básica de Saúde. O acesso e a adesão aos homens às consultas de enfermagem e consultas médicas. Porque em geral, uma realidade que nós encontramos no nosso país é que os homens geralmente estão trabalhando no horário que as Unidades Básicas de Saúde estão abertas.

Então é muito frequente homens reclamarem, falarem que não vão aos serviços de saúde, não procuram unidades básicas - especialmente as unidades básicas, cujo foco principal é a prevenção e a promoção da saúde - porque no horário comercial ele também está trabalhando. Uma das estratégias para a gente conseguir minimizar esta queixa dos homens é ampliar o horário de atuação das unidades básicas, especialmente neste mês de campanha.

Uma maior flexibilização deste horário, por exemplo, algumas unidades que fecham às 17 horas, durante o período de Novembro Azul, fechar às 19 horas. Então há uma reorganização da agenda dos enfermeiros e dos médicos para que os homens que são trabalhadores, que saem do trabalho depois das 17 horas, consigam chegar a uma unidade básica de saúde e serem atendidos após as 17 horas. Então esta é uma das estratégias que a gente tem utilizado para alcançar esta população.  

Uma outra situação, outro desafio importante em relação à participação e à adesão das empresas. Muitas empresas públicas e privadas colocam, aproveitam o mês de Novembro Azul para realizar com uma estratégia de marketing. Colocam o símbolo de Novembro Azul, que é um bigode, em vários pontos da empresa, no site e nas redes sociais. Porém são poucas as empresas que de fato flexibilizam os seus horários para que os seus trabalhadores possam procurar serviços de saúde, pelo menos neste período, do mês de novembro, para buscar informações a respeito da prevenção do câncer de próstata, para melhor de qualidade de vida do trabalhador,  para a redução da violência contra a mulher. Então, não necessariamente algumas empresas “apitam” de fato o Novembro Azul como uma política de melhoria para a saúde do homem.

Uma forma que algumas unidades de saúde têm trabalhado é buscar as empresas do seu território. Então toda unidade básica de saúde está circunscrita no território. Os enfermeiros rastreiam quais são as empresas  daquele território e havendo a possibilidade, principalmente nas unidades básicas que têm estratégia de saúde da família, porque quando há essa estratégia é possível sair da UBS. A título de curiosidade, temos em São Paulo três tipos de UBS. Na atenção primária temos: a UBS tradicional, a UBS integrada (junto a UBS tem uma AMA), e a UBS com estratégia de saúde da família. Nas UBS com estratégia de saúde da família, em geral, os enfermeiros conseguem ter maior participação na comunidade. O enfermeiro consegue sair da UBS para fazer campanha de promoção e educação em saúde.

Portanto, quando o enfermeiro faz o mapeamento do território das empresas que existem naquele local, ele pode planejar algumas ações in loco. Assim, já que os homens não conseguem sair no seu horário de trabalho, a unidade de saúde vai até a empresa e presta algumas orientações, como: de educação em saúde, explica-se um pouco mais sobre os riscos que são inerentes do sexo masculino, para que esses homens saibam um pouquinho mais sobre e tenham melhor condição de tomar decisões, se deve ou não deve procurar um serviço de saúde, se tem maior risco ou não por conta da idade, por conta de fatores hereditários, etc.

O terceiro desafio, que eu aponto, é a nossa cultura latino-americana, que ainda é uma cultura muito machista e preconceituosa em relação à saúde sexual e reprodutiva masculina.  Os homens de uma maneira geral se preocupam muito com o famoso exame de toque para a prevenção do câncer de próstata,  porque mexer na genitália para fazer o exame de toque é necessário introduzir o dedo no ânus, só assim eu consigo atingir a próstata e examiná-la.

Mas, por conta da cultura latino-americana, especialmente, em que a genitália masculina não pode ser tocada por uma outra pessoa, a região do ânus não pode ser tocada por uma enfermeira ou um médico, porque isso mexe com seus valores, mexe com sua virilidade.  Este tipo de cultura preconceituosa afasta muitos homens com fatores de risco importantes para o câncer de próstata, do diagnóstico precoce.

Então, uma das coisas que a gente tem tentado fazer é justamente paulatinamente orientar os homens de que este comportamento é um comportamento apenas preconceituoso, que não há lógica do ponto de vista sexual. O exame de toque não vai afetar em nada a orientação sexual, não vai afetar em nada a libido em relação às mulheres, porque muitas vezes os homens têm esta vergonha e este preconceito em relação ao exame de toque.

E vale lembrar também que o exame de toque não é uma escolha para todos os homens. Há critérios muito específicos para se realizar o exame de próstata por toque. Devem ser incluídos fatores de risco como histórico familiar. Existem exames laboratoriais que antecedem o exame de toque.

Hoje a gente tem um marcador que se chama PSA. O PSA é o antígeno de superfície prostática. Então, muitas vezes solicito primeiro o PSA, havendo indícios de alteração, aí sim que se opta por fazer o exame de toque.

Portanto, a gente tem lançado mão de estratégias de conscientização  dos riscos e da importância do diagnóstico precoce e identificar com bastante cautela quem realmente precisa do exame de toque, tendo em vista que ainda há muito preconceito entre os homens brasileiros, por conta da cultura machista. São desafios que gradualmente a atenção primária tem tentado suprimir, tem tentado resolver. Vou dizer para você que não tem sido fácil. Algumas vezes a gente esbarra em dificuldades administrativas, gestoras, como essa simples estratégia de ampliar o horário de funcionamento de uma UBS. Isto não é uma coisa tão fácil, é preciso planejamento, solicitar a aprovação do Secretário de Saúde, de coordenadores, não é algo tão simples. Porém, temos percebido que quando essas estratégias são implementadas, nós temos uma boa adesão aos homens durante o mês de conscientização e prevenção da saúde masculina.

[O papel da Enfermagem]

Pensando agora especialmente na Enfermagem, ela está intimamente relacionada durante todo esse processo, porque em geral o primeiro contato do homem ao procurar o serviço de saúde, pensando na prevenção, numa unidade básica, o primeiro contato quase sempre será com o enfermeiro. Porque o enfermeiro está no acolhimento ou na classificação de risco. Então, este enfermeiro tem que seguir os protocolos do Ministério de Saúde ou da Secretaria Municipal de Saúde para abordar este homem de uma maneira segura, efetiva e evitar a evasão deste homem. Então, o enfermeiro tem um importante papel neste primeiro contato com o homem, quando ele chega na unidade básica.

Além disso, outro papel importante é a individualização do cuidado. Não é porque nós estamos na saúde pública que o cuidado é igual para todos. O cuidado deve ser adaptado às necessidades de cada pessoa.  Então, uma coisa é: um homem de 42 anos que veio numa primeira consulta com dúvidas a respeito de câncer de próstata e seus fatores de risco; e outra coisa é um homem de 55 anos que nunca procurou um serviço de saúde e que veio aqui por uma outra queixa. Eu posso aproveitar este momento para também explicar para ele os riscos que ele tem.

Então, todo o cuidado de enfermagem precisa ser individualizado àquele usuário, aquele homem que está passando ali. Individualizar o cuidado, mesmo que tenha protocolos específicos para a saúde do homem. Há fatores de risco, há faixas etárias diferentes, há características diferentes de uma pessoa para outra.

Talvez uma terceira propriedade de nós enfermeiros da atenção básica é conseguirmos ampliar o olhar  para as condições psicossociais do homem.  Porque não necessariamente, como eu disse, o mês de Novembro Azul é destinado só para prevenção do câncer de e de outras doenças físicas. Muitas vezes os homens têm mais dificuldade de relatar  sinais de transtornos psicossociais, transtornos mentais, por exemplo. Durante uma consulta de enfermagem na atenção básica, é interessante que o enfermeiro esteja atento para sinais e sintomas voltados à depressão, à ansiedade, síndrome de Burnout - associada à exaustão psíquica. Muitas vezes o homem não percebe ou tende a naturalizar. Eu estou sempre cansado, às vezes me pego chorando, mas é porque eu estou trabalhando demais, porque as minhas demandas não estão tranquilas, porque eu estou brigando muito com o meu chefe, ele não consegue me associar isto às vezes a uma doença mental que está sendo instaurada. Então, é interessante que o enfermeiro esteja atento e aproveite o mês de Novembro Azul para explorar também as questões de saúde mental do homem.

É importante que não apenas o enfermeiro, mas todos os profissionais da área da saúde estejam envolvidos direta ou indiretamente com a temática da saúde masculina aproveite todos os momentos para discutir sobre gênero. Por quê? Volto a relatar a questão do nosso país ter uma cultura muito machista. Muitos homens foram educados, há décadas passadas, a desvalorizar o gênero feminino como o melhor, a desrespeitar ou classificar as mulheres como inferiores e reproduzem este modelo nos dias atuais. Justificando que a mulher deve estar ali para servir, a mulher não está em pé de igualdade. O sexismo que existe é um dos principais motivadores da violência contra mulheres. O Novembro Azul é um momento propício para discutir relações de gênero e apresentar mudanças que tivemos nas últimas décadas. Então, que este modelo que talvez ele tenha aprendido errado não é mais cabível no momento atual, onde a gente deseja a igualdade entre os gêneros.

[Violência contra mulher]

Então, para esta mudança de mentalidade, nós temos no nosso país um grande marco: a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. Essa Convenção aconteceu no nosso país em 1994. Olha só, quase 30 anos atrás, antes mesmo da Lei Mariela Penha. Foi feita esta convenção, em Belém, no Pará, onde mulheres da sociedade, militantes da área de direitos humanos, sociólogas, antropólogas, profissionais da área da saúde, se reuniram para poder falar sobre a violência contra mulher, para poder criar um primeiro documento definindo o que é, no nosso país, a  violência contra mulher. Então, esta Convenção é um marco muito importante, porque não é somente agressão física, mas a agressão psicológica, a violência moral, é igualmente lesiva, ou até mais lesiva para mulher, do que somente agressão física. A física é inaceitável, mas outras  formas de violência passaram a ser incluídas a partir dessa Convenção.

Além disso, esta Convenção estabelece que toda mulher tem direitos, como: o direito de não ser submetida a tortura em qualquer situação, o direito que se respeite a sua dignidade em diferentes esferas, públicas ou privadas, em serviços de saúde, em ambientes de trabalho. É garantida a partir dessa Convenção o direito de proteção perante a lei, então tem o direito a proteção de órgãos públicos, visto que ela já foi submetida a situações de violência anteriormente; tem o direito à liberdade de professorar as próprias crenças de acordo com seus próprios valores, ou seja, independente da fé do seu esposo ou companheiro; ter direito à igualdade de acesso às funções públicas em diferentes lugares.  Então parece muito estranho a gente falar disso hoje, mas ainda encontramos situações onde precisa evocar a Convenção Interamericana de Prevenção de Violência contra a Mulher. Ainda hoje a violência contra mulher continua sendo altamente prevalente.

Toda mulher deveria ser livre de violência, deveria ter o direito de ter valorizada sua educação fora de padrões estereotipados.  Me assusta um pouco o retrocesso que nós tivemos nos últimos quatro anos em relação aos direitos das mulheres e uma valorização do estereótipo de 50 ou 60 anos atrás. Me assusta mais ainda, algumas mulheres divulgarem esses estereótipos, de que “lugar de mulher é na casa”, “lugar de mulher é na cozinha”. Essa Convenção de 30 anos atrás já traz a mulher em pé de igualdade  em relação aos homens,  dando a mulher o direito de não seguir um padrão estereotipado de comportamento e costumes sociais baseado nessa inferiorização e subordinação.

Talvez, por um avanço de uma direita super conservadora, algumas mulheres passaram a divulgar isso como um modelo de gênero. Não existe modelo de gênero. Não pode haver estereótipo de mulher ideal. A mulher é igual ao homem em todos  os sentidos sociais possíveis. As diferenças estão do ponto de vista biológico, mas do ponto de vista social não deve haver esse modelo idealizado sobre o que é ser feminino.

Nós fizemos um estudo com estudantes de Enfermagem, eu e uma orientanda de Mestrado, percebemos que a maioria das estudantes de Enfermagem, que supostamente tem que acolher vítimas de violência sexual, de violência de gênero, a grande maioria das estudantes de Enfermagem também são vítimas de violência associada ao gênero. Isso nos chocou muito. Como que uma enfermeira  vai acolher de forma apropriada uma mulher vítima de violência, se essa enfermeira também  está sendo violentada ou foi violentada em algum momento da sua vida.

E isso é um aspecto interessante que ainda estamos estudando. E é interessante que os homens também saibam que a saúde das mulheres também é responsabilidade dele, uma vez que ele provoca na mulher transtornos, através de xingamentos, ofensas, denegrir sua imagem, ele pode estar provocando nela doenças graves como a depressão, a ansiedade, a ideação suicida.
Enfim, acho que é importante a gente aproveitar o mês do Novembro Azul para conscientizar os homens sobre a violência de gênero que é quase sempre perpetuada por ele, contra mulher. Não que não possa acontecer o contrário, mas é muito mais difícil.

Observatório InEPE: Onde e como uma mulher pode buscar ajuda para fazer a denúncia e quais os serviços que existem para acolher uma mulher em situação de violência?

Profº Drº Hugo Fernandes: As mulheres têm diferentes canais que podem buscar auxílio ou apoio. O primeiro canal que eu sempre recomendo é: que ela procure uma Unidade Básica de Saúde. Por quê? Não sei se todos sabem, mas hoje a violência é um agravo de notificação compulsória. Assim como temos a notificação compulsória de dengue, da febre amarela, de meningite… Hoje a violência é de notificação compulsória. Então, os enfermeiros, médicos e qualquer outro profissional de saúde que atenda uma mulher vítima de violência, deve realizar a notificação deste agravo. Se preenche um documento e encaminha à Secretaria Municipal de Saúde. Primeiro, eu aconselho que isso seja feito porque ajuda a implementar políticas de saúde. Então, não necessariamente esta notificação vá resolver o problema daquela pessoa, mas quanto mais eu tenho transparência sobre o perfil da situação de violência de uma região, mais facilmente eu consigo planejar uma política pública.

Se eu sei que a violência contra a mulher é mais frequente na região sul de São Paulo, eu vou gastar mais dinheiro nesta região.  Então, eu vou utilizar o recurso público nessa região, já que o evento é mais raro em outra região, por exemplo. Assim, a primeira recomendação que eu faço é procurar a unidade de saúde mais próxima para fazer a notificação compulsória. A própria UBS tem um fluxo de atendimento. Em São Paulo temos uma linha de cuidado à pessoa em situação de violência, há um fluxograma. Se for, por exemplo, violência sexual que a mulher sofreu, ela vai precisar receber quimio profilaxia pós exposição ao HIV, as outras ISTs, receber vacina contra hepatite, vai receber a contracepção de emergência, ou seja, a pílula do dia seguinte. Caso ela já tenha engravidado e for realmente comprovado a gravidez associada à violência sexual, ela tem o direito ao aborto. Porque é o aborto que é previsto na lei. Então, essas demandas vão ser atendidas após ela procurar a unidade básica de saúde.

Vamos imaginar que a violência não for uma violência sexual, mas uma violência física. A unidade também vai adotar as medidas necessárias. Então, como por exemplo, houve alguma lesão importante, do ponto de vista músculo-esquelético, vai precisar passar com um especialista, ou vai precisar realizar uma radiografia. Se as agressões têm sido de cunho psicológico ou moral, na unidade básica, há um psiquiatra ou um psicólogo que possa  fazer um acolhimento a esta mulher. Será preciso encaminhá-la a um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), para fazer uma avaliação melhor sobre as sequelas dessa violência Então, é interessante que o primeiro contato da mulher seja com o serviço de saúde. Obviamente, ela também tem o direito e deve procurar os serviços de segurança pública, como as delegacias de polícia ou delegacia especializada em mulher. Temos algumas delegacias especializadas na mulher, cujo atendimento é feito também preferencialmente por outras mulheres.

Agora, o que acaba acontecendo com a segurança pública? Então, as delegacias têm um outro olhar. O olhar de crime. O crime foi cometido, o agressor precisa ser preso, precisa ser penalizado. Isso é algo muito delicado quando se pensa, por exemplo, na violência doméstica. Então, a mulher deve procurar esses serviços, não é lógico? Só que tem que pensar que isso talvez possa causar uma espécie de retaliação do agressor. Ele pode se tornar ainda mais agressivo, ainda mais ofensivo. É sempre interessante que ela procure os órgãos de proteção da Secretaria de Segurança Pública, como delegacias especializadas, por exemplo. Mas é interessante, primeiro que ela procure o serviço de atendimento à saúde. E veja bem, uma coisa não altera a outra. Se a mulher, vamos imaginar, não quiser procurar uma delegacia de polícia, procurando apenas atendimento à saúde, o atendimento é realizado do mesmo jeito. Todas as medidas que são necessárias para o atendimento à saúde, mas sempre vamos recomendar que ela procure um serviço de segurança pública, para denunciar, para fazer a queixa, etc. Mas a escolha é dela.

Caso a mulher escolha não fazer a denúncia em uma delegacia, isso não afeta em nada o processo de cuidar no serviço de saúde. Isso tem que ficar muito claro para todas as pessoas, porque nós não podemos condicionar a saúde à segurança pública. Então, ela vai buscar o atendimento especializado de uma delegacia, se ela assim quiser. Recomendo procurar um serviço de saúde mais próximo de sua casa, procurar uma delegacia especializada  para realizar a denúncia, se assim ela quiser. Ou ela também pode fazer denúncias anônimas. Ela pode fazer denúncia por canais de comunicação, como por exemplo o 180, o disque denúncia, onde ela pode denunciar uma situação de violência quando ela não quer se expor a uma delegacia.

Agora, vale a pena lembrar que talvez esse canal de comunicação detém uma demora um pouco maior na resolução do caso. Porque imagine que são muitas denúncias feitas, muitas anônimas, onde fica difícil até para os órgão de proteção identificar corretamente o agressor, o endereço da vítima, então saiba que é um pouquinho mais difícil. 

Mas há muitas outras opções, inclusive o Ministério Público. Então a mulher que é vítima de violência repetida, aquela violência cuja resolução não se encontra a curto prazo, a mulher também pode procurar proteção no Ministério Público, Ministério Público do Estado de São Paulo, Ministério Público Federal, para tentar garantir os seus direitos. Há outros órgãos, mas os dois principais, que eu sempre recomendo, são a unidade de saúde mais próxima e a delegacia de proteção à mulher.

Vale lembrar que há situações especiais também. Crianças e idosas, são condições especiais e que devem ser adequadamente atendidas de acordo com Estatuto da Criança e do Adolescente ou Estatuto da Pessoa Idosa. Se for uma menina vítima  de algum tipo de violência, nós precisamos acionar o Conselho Tutelar. E no caso de uma mulher idosa, nós precisamos acionar o Conselho Municipal do Idoso. São situações particulares. No caso de uma mulher adulta,  basicamente, serviço de saúde ou uma delegacia especializada. 

Observatório InEPE: Por fim, fatores de risco e prevenção pros homens no Novembro Azul?

[Fatores de risco]

Profº Drº Hugo Fernandes: Todo homem tem risco. Se você tem próstata, você tem risco. Mas os riscos mais importantes são os fatores hereditários, ou seja, a história pregressa da família, por exemplo pais e avós que tenham tido câncer de próstata, a pessoa tem mais chance de ter. Um outro fator é a  idade. Então, se recomenda que a partir dos 40 anos de idade já procurem os serviços de saúde para fazer uma avaliação sobre os seus riscos, e a partir dos 45 anos se faça o exame de toque. Então, dos 40 aos 45 anos será avaliado se precisa ou não, por meio de uma boa anamnese, exame físico e alguns exames laboratoriais, e a partir dos 45 anos é recomendado o exame de toque pelo menos uma vez ao ano, para fazer a análise da próstata.
O uso de alguns medicamentos e a exposição a alguns fatores podem também aumentar [a propensão ao câncer de próstata]. Por exemplo, alguns homens que fizeram uso de tratamento hormonal durante muitos anos sem acompanhamento médico, como, os homens que tomam “bombas”, ou fazem o uso abusivo de alguns hormônios androgênicos, também têm maior fator de risco. Sabemos hoje que os níveis elevados de testosterona até protegem a próstata,  então não é a testosterona em si a grande preocupação, mas o uso prolongado e abusivo de testosterona e associado com outros hormônios. Então, os três fatores importantes são: a idade, a hereditariedade e o uso prolongado e abusivo de alguns medicamentos sem acompanhamento médico.

[Prevenção]

Como possibilidades de prevenção, temos várias coisas. Primeiro, a alimentação saudável não se aplica apenas para manter um bom sistema cardiovascular, reduzir o colesterol ou  sistema neurológico. A alimentação saudável repercute para todos os sistemas corpóreos, inclusive o sistema geniturinário ou reprodutor masculino.

Já sabemos de alguns alimentos com propriedades específicas que podem ajudar a prevenir tanto a hiperplasia da próstata (a hiperplasia é o aumento da próstata), como também o câncer de câncer de próstata. Por exemplo, a soja, o tomate e o feijão têm essas propriedades, sendo alimentos bons para o sistema reprodutor masculino, então, podem ajudar a reduzir. E associado a isso, os exames precoces. Seja no Novembro Azul ou em qualquer outro mês do ano, a procura de serviços de saúde para fazer toda a avaliação clínica que for necessária.

Uma outra forma de prevenção importante é: alimentação associada à atividade física. A atividade física aumenta o processo metabólico, você consegue melhorar a circulação, consegue melhorar, inclusive, a produção hormonal ajudando a manter a saúde masculina boa. Então, é interessante praticar atividades físicas regulares, uma atividade não apenas de musculação, mas também aeróbicas. Isso pode ajudar substancialmente a prevenir problemas sexuais masculinos, pode também prevenir a hiperplasia da próstata e a própria neoplasia (a criação de um novo tecido). Então atividade física, boa alimentação, escolha apropriada dos alimentos e o exame frequente, principalmente a partir dos 40 anos com exames laboratoriais e a partir dos 45 anos com o exame de toque.


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