Nos dias 13 e 14 de fevereiro de 2023, a Escola Paulista de Enfermagem (EPE), em parceria com a Coordenadoria Regional de Saúde Sudeste (CRS-SE), da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, realizou a Capacitação em Técnicas de Administração de Vacinas para enfermeiras(os) e técnicos(as) de enfermagem da CRS-SE. Um tópico bastante debatido foi a aplicação de vacinas, por via intramuscular, em região ventroglútea, local ainda não utilizado rotineiramente nas salas de vacinação.
Essa ação ocorreu no Centro de Ensino de Habilidades e Simulação Helena Nader e foi organizada em formato de oficinas teórico-práticas, com turmas para 20 profissionais, em média, distribuídas em três horários para cada dia da ação. Participaram 114 profissionais, vinculados a Unidades Básicas de Saúde (UBS), Organizações Sociais de Saúde (OSS), Supervisões Técnicas de Saúde (STS), Unidades de Vigilância em Saúde (UVIS), Hospitais, entre outros equipamentos de saúde.
Da esquerda para direita: Alexandre Balsanelli, Mara Tamires Costa, Monica Taminato, Paula Hino, Mayra Oliveira, Ivete Zanata, Marcela Basilio , Káren Souza e Girliani Silva.
Face à complexidade do calendário nacional de vacinação e à consequente imunização de várias doenças, em alguns casos, diante do atraso vacinal, é necessária a aplicação de vários imunizantes na mesma ocasião. Nesse sentido, torna-se importante ampliar o aprendizado sobre vacinação, técnicas, vias e locais de administração de vacinas, principalmente as intramusculares.
Os dois dias de oficina foram ministrados por enfermeiras que fazem parte da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm) e que integram o grupo educacional Capacita Imune. Nestas datas, os profissionais de enfermagem puderam aprender e discutir sobre anatomia básica, cadeia de frio, técnicas de imunização, cuidados e precauções em imunização, além da prática de imunização com enfoque na técnica em Z e administração no músculo ventroglúteo.
Essa capacitação constituiu um plano de contrapartida de curso vinculado ao Contrato Organizativo de Ação Pública Ensino-Saúde (COAPES), celebrado entre a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, visando o fortalecimento da integração ensino-serviços-comunidade no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Com essa ação, espera-se estimular o engajamento de profissionais de enfermagem da CRS-SE em práticas seguras de administração de vacinas, reduzindo eventos supostamente atribuíveis à vacinação.
Mayra discute com um grupo de profssionais da saúde sobre a prática de aplicação ventrogluteal.
Mayra Oliveira, Marcela Basilio e Mara Tamires Costa.
Marcela Basilio e profissionais da saúde em oficina.
O Observatório InEPE esteve presente na ação e conversou com as professoras Monica Taminato e Káren Souza, ambas do Departamento de Saúde Coletiva da Escola Paulista de Enfermagem da Unifesp, responsáveis pela elaboração e organização da ação. Também participaram dessa organização a interlocutora de imunização da Divisão Regional de Vigilância à Saúde (DRVS) Sudeste, Ivete Zanata, a Técnica Administrativa em Educação da Unifesp, Ivone Aparecida de Almeida Soares de Souza, e profissionais do Centro de Ensino de Habilidades e Simulação da referida instituição de ensino.
A professora Monica, que nos concedeu a entrevista, possui graduação em Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo (2002). Atualmente é professora adjunta do departamento de Saúde Coletiva da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo. Líder do Grupo de Estudos: Epidemiologia, Revisão Sistemática e Políticas em Saúde. Editora Associada da Revista Acta Paulista de Enfermagem. Coordenadora do Núcleo de Evidências - NEV C.A.R.E. ligado à Rede Evipnet 2022. Já, Ivone, possui graduação em Enfermagem (2006). Atualmente está fazendo interlocução de imunização na UBs Ipiranga, da Prefeitura de São Paulo, e também é Enfermeira no Crie da Universidade Federal de São Paulo.
Ivone Souza (TAE) e Monica Tominato (docente da EPE)
Observatório InEPE: Quais os desafios para a vacinação no Brasil?
Profª Drª. Monica Taminato: Eu acredito que temos muitos desafios, mas o principal desafio é a valorização no papel do Enfermeiro e da liderança da nossa profissão nas ações como protagonistas e representantes do nosso grande programa de imunização, o qual devemos ter orgulho. Ele é um exemplo a ser seguido. Um outro desafio é melhorar a capacitação dos profissionais de saúde. Com profissionais bem formados e orientados, nós também teremos grandes reflexos como a confiança nas vacinas que é um desafio que precisamos enfrentar e superar.
Outro desafio importante é o enfoque de melhorar a cobertura vacinal. Então, o nosso grande objetivo é elevar nossas coberturas, percebemos que nos últimos anos houve uma política de arrefecimento nas vacinações. As pessoas passaram a desacreditar e a questionar o modo de aplicação das vacinas. Ontem, durante a oficina, a Mayra [Mayra Oliveira, responsável por ministrar a prática] falou “a gente viu de tudo nas campanhas de vacinação durante a pandemia, né?".
Então, também é importante trazer de volta a prática correta e uniformizar os procedimentos. Um profissional seguro traz segurança para o vacinado. Essa formação que a capacitação trouxe é uma nova estratégia. Uma estratégia de aplicação de vacina segura, comprovada, que diminui a dor. Porque, às vezes, a experiência do vacinado a imunização, com um evento adverso que é a dor pode ser um pressuposto para perda de segurança. Por isso, nós buscamos qualificar o profissional cada vez mais.
Assim, conseguimos trazer de novo a população para imunização e com o nosso histórico nós sempre tivemos uma população que tinha segurança no nosso programa e confiança nas nossas vacinas. Então, eu acredito que com a formação de bons profissionais de saúde, a gente consiga reconquistar e trazer a população para perto, porque conseguimos respostas rápidas e eficazes.
Qual o papel do enfermeiro na vacinação?
TAE Ivone Souza: O enfermeiro desempenha papel fundamental nas ações de imunização, desde a questão logística até o procedimento em si. É um campo que o Enfermeiro possui muita autonomia e quando bem preparado consegue resultados surpreendentes que refletem na saúde pública.
Observatório InEPE: Como surgiu a proposta de capacitação sobre vacinação para os profissionais do SUS?
TAE Ivone Souza: Cada dia o calendário vacinal brasileiro fica mais complexo, exigindo várias aplicações no mesmo atendimento. A aplicação em ventroglúteo abre possibilidades e permite que não percamos a oportunidade de imunização, desta maneira diminuímos a necessidade de retorno ao serviço.
Observatório InEPE: Quantos profissionais participarão da capacitação? Quantos serviços estão envolvidos?
Profª Drª. Monica Taminato: Nós tivemos os profissionais representantes das salas de vacinas das Unidades Básicas de Saúde. A vigilância, especialmente da região sudeste, e também uma representante das Forças Armadas, que foi a coordenadora do Projeto Acolhida que atuou na fronteira do Brasil com a Venezuela e que provavelmente ela irá para a ação com os Yanomami em Roraima. Nesse último caso, essa enfermeira veio realizar a capacitação, para futuramente, se ela for enviada para a região que está atuando com os Yanomami ela aplicar a técnica.
TAE Ivone Souza: Foram 98 UBS, as 5 Uvis (unidades de vigilância em saúde), além de representantes dos parceiros e supervisoras técnicas de saúde. Todos pertencentes a Coordenadoria Regional de Saúde Sudeste. (CRS-SE)
Observatório InEPE: Qual a relevância desta ação para a integração ensino-serviço-comunidade?
Profª Drª. Monica Taminato: Nessa ação nós estamos muito felizes e orgulhosos de fato, né? Ter uma integração na prática mostrando e fazendo essa troca de experiências entre os e serviços que tanto nos acolhem com objetivo de termos uma prática assistencial e de qualidade. Também trazermos para a nossa instituição e oferecer em parceria esse tipo de ação. A gente espera que a nossa universidade, a nossa casa, faça muito mais isso. E que os serviços nos reconheçam para que a gente possa continuar atuando de acordo com as demandas. Que possamos ter respostas rápidas e focadas nos problemas dos profissionais da saúde e essa integração na assistência à academia.
Observatório InEPE: Como os estudantes estão envolvidos nesta ação e a contribuição para a sua formação?
Profª Drª. Monica Taminato: Todas as ações que iniciamos durante a pandemia sempre tivemos a integração dos estudantes e eles foram fundamentais para que a gente conseguisse atender as demandas da comunidade. Então, qualificar sempre os profissionais de saúde, trazer para as formações é uma característica que a gente sempre valoriza. Nesta ação em específico nós temos como tutoras, duas alunas da pós-graduação, uma do doutorado e uma de mestrado, que é a coordenadora e representante das forças de segurança.