Nos dias 14, 15 e 16 de junho de 2023, ocorreu a Conferência de 50 anos de Aniversário da NANDA International no Boston College, nos EUA. O evento contou com a participação das professoras Alba Lucia Bottura Leite de Barros e Camila Takao Lopes. Além disso, as graduandas da Escola Paulista de Enfermagem, Aline Pereira e Sophia Rossetto, que são orientandas da Professora Camila, tiveram a oportunidade de prestigiar o evento e apresentar seus projetos de iniciação científica.

Durante a conferência, a Professora Camila Takao Lopes ministrou a palestra "Diagnosis Development Updates and New Developments in Nursing Diagnosis". Além disso, ela recebeu o totem do Unique Contribution Award da conferência online de 2021. A Professora Alba e a Professora Camila foram premiadas em quatro apresentações de pôsteres, realizadas em parceria com pós-graduandas do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e colaboradores interinstitucionais.

Em uma entrevista ao Observatório InEPE, a Professora Camila Takao Lopes e as graduandas Aline Pereira e Sophia Rossetto, do 3º ano e 4°ano do curso de Enfermagem da EPE, compartilharam um pouco sobre a experiência vivenciada na Conferência de 50 anos do Aniversário da NANDA International.

 

Observatório InEPE: Professora, conte-nos um pouco sobre como começou sua aproximação com as pesquisas sobre diagnóstico de Enfermagem.

Profª Camila Takao: Minha aproximação com as pesquisas sobre diagnóstico de Enfermagem teve início quando me juntei ao grupo de pesquisa da Professora Alba Barros, chamado "Grupo de Estudos, Pesquisa e Assistência em Sistematização da Assistência de Enfermagem". Procurei a Professora Alba com interesse em realizar meu doutorado. No currículo da Professora Alba, percebi que ela trabalhava com processo de enfermagem e classificações de enfermagem. Foi a partir desse momento que minha aproximação começou. Dediquei-me a estudar de forma mais aprofundada os diagnósticos da NANDA-I, as intervenções da NIC e os resultados da NOC.

Por volta de 2010 ou 2011, tive a oportunidade de conhecer a Professora Heather Herdman, CEO da NANDA-I, que esteve na Unifesp como professora visitante durante um ano. Nesse período, estreitei minha relação com ela como pesquisadora. A Professora Heather contribuiu para o planejamento do meu doutorado e comecei a realizar trabalhos voluntários para a associação. Atuei como monitora de congressos, auxiliei na secretaria desses eventos, gerenciei parte do banco de dados, fiz traduções para eventos da NANDA-I, auxiliei na contagem de tempo, fui membro do Comitê de Desenvolvimento Diagnóstico e uma das organizadora de um programa de educação continuada à distância, chamado PRONANDA. Portanto, minha aproximação com a pesquisa sobre diagnósticos se deu por meio da orientação, encaminhamentos e incentivo da Professora Alba no grupo de pesquisa liderado por ela, e minha ligação com a associação foi fortuita, graças à presença da Professora Heather aqui na Unifesp, trazida com financiamento do CNPq e por intermédio da Professora Alba.

 

Observatório InEPE: Conte-nos sobre o evento do 50º aniversário da Nanda-I e sobre o prêmio que você ganhou?

Profª Camila Takao: A NANDA-I realiza conferências bianuais, geralmente nos anos pares. No entanto, devido à pandemia, o Congresso de 2020 não pôde acontecer, sendo adiado para 2021, de forma online. Assim, em 2023, tivemos duas comemorações importantes: a oportunidade de realizar uma conferência presencial novamente e a celebração dos 50 anos da associação. 

O prêmio que recebi é chamado de "Unique Contribution", que reconhece uma contribuição singular para o avanço dos diagnósticos de Enfermagem da NANDA-I nas áreas de ensino, pesquisa e gestão. Fui indicada para esse prêmio pela própria diretoria da NANDA-I e o recebi em 2021. Durante o evento presencial, tive a oportunidade de receber o totem que simboliza essa honraria.

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Profa. Camila Takao Lopes posando ao lado da Profa. Alba Lucia Bottura Leite de Barros com o totem do Unique Contribution Award, que ela havia recebido na conferência online de 2021.

 

Observatório InEPE: Conte-nos um pouco sobre sua experiência e importância para a Enfermagem brasileira em ser Fellow da NANDA-I e diretora do Diagnosis Development Committee da NANDA-I.                                                                                                                       

Profª Camila Takao: É importante destacar que não sou a única Fellow brasileira. Antes de mim, outros pesquisadores de excelência brasileiros foram nomeados como Fellows da NANDA-I. O título de Fellow foi criado em 2014 pela NANDA-I com o objetivo de homenagear pessoas que contribuíram ao longo dos anos para o avanço dos diagnósticos de Enfermagem da NANDA-I. A primeira turma de Fellows incluiu a Professora Alba, professora titular aqui na EPE, juntamente com a Professora Diná Cruz, da Escola de Enfermagem da USP. Ambas são renomadas pesquisadoras e referências na área de diagnósticos no Brasil.

Em seguida, outras pesquisadoras também foram nomeadas Fellows: a Professora Miriam Abreu, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Emília Campos de Carvalho, da USP Ribeirão. Na turma seguinte, tive a honra de ser nomeada Fellow, juntamente com os Professores Marcos Venicios Lopes e Viviane Silva, da Universidade Federal do Ceará. Posteriormente, outros Fellows brasileiros foram nomeados: a Professora Elenice Carmona, da Unicamp, e Rita Gengo, que agora atua na Florida Atlantic University. Durante esse Congresso, ficamos muito felizes com a nomeação da Professora Juliana de Lima Lopes, da EPE, como Fellow. Ela foi co-orientadora do meu doutorado juntamente com a Professora Alba e hoje somos professoras da mesma Disciplina.

Quando fui nomeada, eu era membro do Diagnosis Development Committee, responsável por receber submissões de diagnósticos de enfermeiros de todo o mundo. Nesse comitê, avaliamos a estrutura dos diagnósticos, verificamos se eles realmente devem fazer parte da classificação, desenvolvemos normas de avaliação por especialistas, elaboramos fluxos e fornecemos consultoria aos pesquisadores, quando necessário. Atuei como membro desse comitê por cerca de 6 ou 7 anos antes de ser convidada a ser diretora.

Anteriormente, não havia um diretor brasileiro no Diagnosis Development Committee, então fui a primeira diretora brasileira. No entanto, já tivemos um diretor brasileiro, o Professor Marcelo Chanes, que ocupou o cargo de Diretor de Educação, e a Professora Emília Campos de Carvalho, que ocupou um cargo chamado Director at Large, que é semelhante a relações internacionais na NANDA-I. Ter uma pesquisadora brasileira ocupando essa posição é significativo, mas isso só foi possível graças aos pesquisadores renomados que me antecederam e fizeram um excelente trabalho na NANDA-I, ao pioneirismo e incentivo da Profa Alba, assim como aos esforços conjuntos dos pesquisadores no Brasil para o avanço dos diagnósticos de Enfermagem.

Nesse cargo, tenho a oportunidade de estabelecer contato e parcerias com pesquisadores de todo o mundo que estudam os diagnósticos da NANDA-I. A classificação é traduzida para mais de 21 idiomas, o que demonstra sua importância e alcance internacional.      

                                                              

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Profª Alba Lucia Bottura Leite de Barros segurando o Pin de fellow da ProfaªJuliana de Lima Lopes ao lado da Profª Camila Takao Lopes.

 

Observatório InEPE:  E qual a relevância/impacto disso para a EPE no âmbito do ensino, pesquisa e extensão?

Profª Camila Takao: Recebo mensagens de pesquisadores felizes por termos uma representante do Brasil ocupando esse cargo, além de receber mensagens de admiração pelo trabalho da associação. Quando convidamos esses pesquisadores para revisarem os diagnósticos, eles respondem expressando sua honra em participar. Em termos de experiência pessoal e profissional, é extremamente gratificante. Sinto gratidão e admiração por parte dessas pessoas. Ocupar esse cargo se tornou parte da minha identidade como pesquisadora, professora e enfermeira. Também foi importante para consolidar o meu percurso profissional.

Em relação à EPE, acredito que o impacto maior vem dos contatos internacionais que conseguimos estabelecer por meio da associação. Esses contatos permitem a realização de projetos multicêntricos e o avanço na internacionalização de estudantes de graduação e pós-graduação. Por meio dessa rede de contatos proporcionada pela associação, temos projetos em parceria com profissionais de outros países, conseguimos financiamento internacional e recebemos prêmios em eventos internacionais. Dessa forma, a representatividade externa da EPE por meio desse cargo na NANDA-I é de grande importância. Isso se reflete não apenas em âmbito internacional, mas também nacional, com convites para participar de eventos e bancas, por exemplo, que propiciam a criação de parcerias para pesquisas. Essa representatividade contribui para o avanço da pós-graduação e amplia as possibilidades de parcerias para a instituição.

 

Observatório InEPE: Conte-nos o que te motivou a incentivar as estudantes de enfermagem e suas orientandas de IC a irem para um evento internacional em outro país? 

Profª Camila Takao: Quando eu era estudante de graduação, tive dúvidas sobre minha escolha de ser enfermeira durante os primeiros 2 ou 3 anos da faculdade. Foi por meio da iniciação científica que descobri minha paixão pela pesquisa, o que me manteve na faculdade. A iniciação científica representou um caminho decisivo para eu entender que a carreira acadêmica era algo que eu realmente queria seguir, ao lado da prática profissional, é claro. A iniciação científica é um momento em que o pesquisador se descobre, e é de extrema importância.

Além disso, minha primeira experiência internacional ocorreu durante a graduação, e foi algo sensacional para mim. Ao longo de uma trajetória acadêmica, seja no mestrado ou no doutorado, as dúvidas sempre persistem na cabeça de um pesquisador: "Esse trabalho que estou fazendo é relevante?", "Não é muito simples?", "Será que terá alguma utilidade?". Apresentar em um evento e observar o interesse das pessoas, compartilhar descobertas e interesses profissionais, além de conhecer diversas possibilidades, pode auxiliar nesse processo. Há aspectos que só conseguimos compreender plenamente em eventos presenciais, como conversas nos intervalos, discussões feitas durante palestras e as respostas obtidas.

Quando Aline e Sofia iniciaram os projetos, eu já sabia que haveria o Congresso da NANDA-I neste ano, uma vez que ocorre a cada dois anos. Então, perguntei se teriam interesse em apresentar um resumo no congresso, e elas disseram que sim. Como se tratava de um evento em comemoração aos 50 anos da associação, era uma oportunidade única. O primeiro congresso que eu participei, já como doutoranda, foi o de 40 anos. Nesse congresso, eu era responsável pelo controle do tempo das apresentações. Ficava lá com a plaquinha marcando o tempo e também fiz algumas traduções na secretaria. Dez anos depois, poder ir com as alunas de graduação, apresentar o trabalho delas, conversar com as pessoas... Elas receberam elogios de uma pesquisadora americana, que pediu para a Sofia traduzir seus vídeos para o inglês porque ela queria utilizá-los. Também planejamos uma potencial estadia da Aline em uma universidade portuguesa para discussão dos dados. Elas estabeleceram contatos com profissionais do Brasil que estavam presentes no evento. Foi extremamente emocionante para mim poder vê-las. E aquele medo de falar inglês? De falar errado? Elas superaram isso e saíram conversando com todos, compartilhando seu trabalho. Foi uma gratificação pessoal muito grande para mim.

Percebi que a carreira acadêmica está no futuro das duas estudantes. Elas puderam ver o quanto isso faz sentido e quantas pessoas estão trabalhando para avançar a pesquisa em enfermagem. Quando você conhece exemplos de enfermeiros excelentes, que acreditam e lutam por causas dentro da enfermagem, isso é fundamental para construir sua identidade profissional. Foi assim que aconteceu comigo: descobri que existe uma enfermagem que é e uma enfermagem que pode ser. No mundo da pesquisa, descobrimos o que ela pode ser e como podemos avançar. Acredito que devemos nos alimentar dos dois mundos (o que é e o que pode ser) para construir nossa identidade como enfermeiras.

 

Observatório InEPE: Como você percebe que essa experiência pode ajudar na formação de futuros enfermeiros?

Profª Camila Takao: Bem, eu acredito que as atividades associativas em geral proporcionam a oportunidade de se relacionar com pessoas com as quais você não teria contato se não fizesse parte daquela associação. Isso inclui a Associação Brasileira de Enfermagem, que possui um comitê específico para estudantes de enfermagem, conhecida como COEST (Comitê Estudantil Nacional). Esse comitê, presente em cada estado, realiza encontros nacionais, promove eventos e discute questões relevantes para a graduação em enfermagem.

Um estudante de graduação ainda é inexperiente e não sabe ao certo o que significa ser um enfermeiro. Leva um tempo para que essa mudança ocorra, passando das ciências básicas para as ciências da Enfermagem, de deixar de ser uma pessoa leiga para alguém que está se tornando um profissional de saúde e que construirá uma identidade dentro de uma profissão que trabalha em equipe interprofissional.

Portanto, essas atividades associativas, como a ABEn, a NANDA-I e a Socesp (Associação de Cardiologia do Estado de São Paulo), ajudam a criar essa identidade, a conhecer pessoas com interesses semelhantes e a compreender que existem pessoas que acreditam, agem e doam seu tempo. Grande parte desse trabalho é voluntário, como é o caso de algumas diretorias da NANDA-I, da ABEn e da Socesp. Eu acredito que essas atividades associativas criam oportunidades para estabelecer esses laços e são extremamente importantes. Na enfermagem brasileira, falta um pouco mais disso. As associações nacionais de enfermagem em outros países costumam ser bastante fortes. Ser reconhecido como "fellow" do American Academy of Nursing ou da American Heart Association é algo de grande prestígio para enfermeiros de outros países. Precisamos consolidar essa identidade, esse espírito de união. Portanto, desde a graduação, se começarmos a construir isso por meio das associações, acredito que seja benéfico para desenvolver nossa identidade e consolidá-la posteriormente, conhecendo pessoas e participando das atividades. A NANDA-I é uma dessas associações, entre tantas outras em que podemos nos interessar, nos unir e trabalhar juntos.

 

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Alguns fellows brasileiros no 50º aniversário da NANDA International em Boston.

 

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 Profa Camila Takao Lopes no 50º aniversário da NANDA International em Boston.

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Profa Camila Takao Lopes ministrando a palestra "Diagnosis Development Updates and New Developments in Nursing Diagnosis" no 50º aniversário da NANDA International no Boston College

 


Em entrevista, a orientanda Aline Pereira conta um pouco a respeito de sua experiência no 50º aniversário da NANDA International em Boston College.

 

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Orientanda Aline Pereira no primeiro dia de Conferência do 50º aniversário da NANDA em Boston College, nos EUA.

 

Observatório InEPE: Do que se tratava, quando e onde ocorreu esse evento internacional? 

Orientanda Aline Pereira: Eu já havia conversado com a professora Camila para buscar uma experiência internacional para incluir no meu currículo, independentemente do idioma ou local. Então, a professora Camila sugeriu que eu me inscrevesse no congresso da NANDA-I. Submetemos nosso projeto em setembro/outubro de 2022 para o congresso que ocorreria nos dias 14, 15 e 16 de junho de 2023. O congresso teve a duração de três dias consecutivos, com atividades ao longo de todo o dia. O evento aconteceu no Boston College, uma universidade em Boston, nos EUA.

 

Observatório InEPE: O que te motivou a participar desse evento?

Orientanda Aline Pereira: O que me motivou a participar desse evento foi, principalmente, a oportunidade e a admiração que tenho pelo trabalho da Professora Camila. Percebi o quanto ela estava grata por podermos estar lá e ela até relembrou de quando foi aluna e teve a experiência de participar de eventos internacionais. Ela mencionou: "Hoje me sinto grata por estar aqui com as minhas orientandas". Isso foi o que mais me motivou, além da possibilidade de expandir meu currículo. Eu não queria ficar apenas com experiências básicas. Quem me incentivou bastante a buscar oportunidades internacionais foi a Professora Bartira. Durante uma aula de Cirúrgica com ela, ela contou como incentiva as residentes a participarem de eventos internacionais, o que me fez refletir sobre o assunto.

 

Observatório InEPE: O que você apresentou no Evento?  

Orientanda Aline Pereira: Então, havia diversas modalidades de apresentação, e a minha foi na forma de um pôster do nosso projeto. Inclusive, o pôster ficou disponível no site do congresso da NANDA-I e ainda está lá, as pessoas podem acessá-lo. No meu crachá, havia uma tag indicando a apresentação do pôster, então as pessoas vinham até mim durante todo o congresso para perguntar sobre a minha pesquisa. Não havia um momento formal de apresentação em uma sala para todos. Era ao longo de todo o congresso, então poderíamos ser abordados de surpresa e ter que falar sobre o projeto, você sabe? Era basicamente assim.

O tema do meu pôster era a relação entre a insuficiência cardíaca e a baixa autoestima situacional e baixa autoestima crônica. Esses dois diagnósticos na NANDA-I estão relacionados com a funcionalidade do paciente. O objetivo do estudo era investigar a influência da insuficiência cardíaca na autoestima e funcionalidade dos pacientes, além da relação entre a funcionalidade e a autoestima. O pôster abordava esses aspectos, apresentando um resumo do meu projeto e mostrando o que eu desejo pesquisar, contribuir e evidenciar como esse diagnóstico de enfermagem afeta a vida das pessoas, se há embasamento para isso, compreende?

 

Observatório InEPE: Como foi a experiência em participar de um evento internacional?

 Orientanda Aline Pereira: Confesso que fiquei muito apreensiva. Tinha medo de passar vergonha, porque não estava claro se teríamos que fazer uma apresentação formal ou não. Eu sei falar inglês, não era algo impossível para mim, mas tinha muita dificuldade com o vocabulário técnico-científico. Havia palavras que eu não conhecia. Então, precisei estudar e pesquisar alguns termos de enfermagem. Fiquei bastante tensa, planejei como iria me apresentar. A professora Camila sempre me tranquilizava e dizia que estaria próxima o tempo todo, o que me deixava mais tranquila, mas mesmo assim sentia aquele frio na barriga. Além disso, me planejei financeiramente.

Pratiquei o idioma e também fiz um planejamento em relação ao meu curso de graduação. Tive que conversar com as coordenadoras e explicar a situação. Precisei me organizar em relação às provas, inclusive nesta semana terei muitas provas para fazer, já que perdi algumas. Durante o período em que estive lá, tive que me planejar também em relação aos estágios, pois estava em um estágio de saúde coletiva. Tive que me organizar e planejar com as minhas professoras, explicando a situação para não me prejudicar em relação à avaliação e poder contribuir de alguma forma para o estágio em grupo. Houve também um estudo de caso para apresentar, mas eu não estaria presente no dia da apresentação, então me ofereci para criar todos os slides. Fui atrás de tudo, para não deixar nada faltando e não deixar meu grupo na mão, sabe?

Em relação às finanças, fiz o possível para me virar. Vendi brigadeiros e cones recheados  para o pessoal da faculdade e para as colegas da escola da minha mãe, que é professora. Fiz uma rifa com 150 números, cada um custando dez reais. Tudo isso foi para ajudar com meus gastos, pois precisei pagar passagem aérea. A hospedagem foi oferecida no Boston College, mas ainda havia custos. Convertendo o valor para reais, ficou um pouco acima do salário mínimo. Também precisei pagar a taxa de inscrição do congresso, que para estudantes era de cem dólares, o que se transformou em mais de quinhentos reais quando incluída a taxa do IOF. Foram custos significativos. As passagens também não foram baratas, porque minha mãe preferiu que eu pegasse um voo direto para evitar problemas com bagagem ou imprevistos durante as conexões. Então, optei pelo voo direto. Durante os dias do congresso, houve alimentação fornecida, o que foi muito bom. 

Houve um planejamento cuidadoso. Me organizei financeiramente e ainda estou me planejando financeiramente após o congresso, pois foi um investimento significativo.  Valeu muito a pena.

 

Observatório InEPE: O que você levou dessa experiência tanto para sua vida profissional, mas também para sua vida pessoal? E qual foi o papel da UNIFESP/EPE para proporcionar essa experiência pra você? 

Orientanda Aline Pereira: Olha, a experiência me proporcionou a oportunidade de conhecer pessoas extremamente importantes no campo da enfermagem, pessoas realmente significativas. Através da professora Camila, que faz parte da NANDA-I, tive a chance de jantar com as presidentes da organização. Foi uma oportunidade única para minha carreira. Além disso, levar minha pesquisa para apresentar foi um grande bônus, não apenas para meu currículo, mas também porque aprendi muito com as pesquisas de outras pessoas. Conheci docentes de faculdades importantes do Brasil, como USP e Unicamp. Alguns alunos estão fazendo pós-graduação ou doutorado e apresentaram pesquisas incríveis. Foi uma troca de conhecimento e uma grande oportunidade de networking. Surgiram possibilidades de realizar novas pesquisas e estágios em outros lugares, até mesmo em outros países. São projetos futuros que a professora Camila está considerando para mim. Em relação à minha vida pessoal, foi um momento em que viajei sem meus pais, para um país distante da minha família. Tive que me virar com o inglês. Foi uma superação pessoal. Percebi que sou capaz e que tenho potencial. Tenho o hábito de não acreditar muito em mim mesma, essa é uma falha minha. No entanto, a experiência no congresso me fez enxergar que sou uma pessoa extremamente capaz. Foi um momento em que pensei: "Uau, eu posso conquistar muito mais, posso encontrar meu lugar na enfermagem que vai além das paredes de um hospital. Posso contribuir para expandir a enfermagem para outros lugares". É uma ambição saudável, pois me fez perceber que escolhi enfermagem em vez de medicina, e hoje não penso em trocar. Conquistei muito mais do que imaginava dentro da enfermagem. Deus teve um papel fundamental em tudo, sou muito religiosa nesse sentido. Desde o momento em que decidi fazer enfermagem, tudo se encaixou em minha vida. Tive a oportunidade de escolher qualquer faculdade com o Sisu, todas as portas se abriram, tive facilidade ao longo do curso, as coisas fluíram muito bem.

A UNIFESP desempenhou um papel significativo ao ter excelentes professores na escola, como a professora Camila, que nos mostram a oportunidade de fazer pesquisa e apresentar internacionalmente. Para mim, a UNIFESP tem um significado especial, pois desde antes de querer fazer enfermagem, eu sempre soube que estudaria lá. Sempre soube que seria minha faculdade. Tem um significado diferente para mim. Não é apenas uma universidade federal muito boa, ela tem nota cinco no MEC e oferece muitas oportunidades para os alunos. Basta saber o momento certo e aproveitar as oportunidades. Se alguém tem o sonho de realizar algo internacional, precisa correr atrás e se esforçar ao máximo, pois é possível. Acredito que a universidade deve oferecer bolsas ou patrocínios, mas não tenho certeza sobre os detalhes específicos.

A UNIFESP tem uma reputação notável e oferece muitas oportunidades além das fronteiras, de verdade. Fiquei imensamente feliz por terem me convidado para esta entrevista, sabia? Estou aqui com vergonha, mas ao mesmo tempo muito feliz e extremamente grata. Então, obrigada a todos, de coração.

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Profa Camila Takao Lopes e a orientanda Aline Pereira em frente ao pôster apresentado durante o 50º aniversário da NANDA no Boston College, nos EUA.

 


Em entrevista, a orientanda Sophia Rossetto conta um pouco a respeito de sua experiência no 50º aniversário da NANDA International no Boston College.

Observatório InEPE: Do que se tratava esse evento internacional?

Orientanda Sophia: Tratava-se de um congresso da NANDA-I, comemorando o seu 50º aniversário.

 

Observatório InEPE: Quando e onde aconteceu o evento internacional?

Orientanda Sophia: O evento ocorreu em Boston, nos dias 14 a 16 de junho de 2023, no Boston College. Tivemos a oportunidade de conhecer a escola de enfermagem no campus. O campus fica afastado da cidade, então sempre que precisávamos ir ao centro ou a algum outro local, pegávamos um trem. Havia uma estação ao lado, o bairro era muito bom e tinha alguns lugares para se alimentar por perto. Foi uma experiência muito legal.  

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Orientanda Sophia Rossetto no 50º aniversário da NANDA-I no Boston College, nos EUA. 

 

Observatório InEPE: O que te motivou a ir para esse evento?

Orientanda Sophia: Além da minha orientadora ser referência na área dos diagnósticos da NANDA-I, fui motivada pela oportunidade de estar próxima e conhecer pessoas importantes, aquelas que só ouvimos falar nos livros. Poder conhecer a própria Dorothy Jones e tirar uma foto com ela foi algo muito especial. Foi uma experiência muito enriquecedora poder conhecer pessoas tão maravilhosas. Tive a oportunidade de conhecer também muitos professores de outras universidades, como UNICAMP e UFRJ. Ampliar nossas conexões dessa forma foi de extrema importância para iniciarmos nosso próprio caminho. Tive  a oportunidade de conhecer uma especialista em amamentação, outra em saúde da mulher como um todo, e como tenho grande interesse na área, foi algo incrível para mim!

Antes de ir, não imaginava que teria tantas oportunidades de conhecer pessoas maravilhosas. O que mais me motivou foi a experiência de explorar uma área que não conhecia profundamente, como os diagnósticos de enfermagem. Foi uma descoberta muito enriquecedora, e sou muito grata por essa oportunidade.

 

Observatório InEPE: Como foi a experiência em participar do evento?

Orientanda Sophia: As palavras que descrevem bem são "emoção" e "gratidão". Foi uma oportunidade incrível poder estar lá e olhar para trás pensando: “nossa, eu cheguei até aqui”. Mesmo com um ambiente tão desfavorável, devido à pandemia, e todas as dificuldades que enfrentamos por conta disso, a oportunidade de conseguir estar no congresso do NANDA-I foi realmente especial.

 

Observatório InEPE: Como você se planejou para o evento? Seja em termos financeiros, prática de outro idioma e até mesmo na criação e apresentação do seu trabalho?

Orientanda Sophia: Em termos financeiros, foi um pouco apertado, já que investimos na viagem com nossos próprios recursos e não foi barato. Optamos por ficar hospedados no campus da universidade, nos dormitórios dos estudantes, que era uma das opções mais econômicas. Como era período de férias, o campus estava vazio, o que nos permitiu estender nossa estadia e conhecer outros lugares. No entanto, a alimentação não era barata. Optamos por refeições mais acessíveis em fast-foods, mas as refeições mais saudáveis eram mais caras. Foi um planejamento desafiador, com tudo calculado e cronometrado para não ficarmos sem recursos, já que ainda tínhamos obrigações financeiras no Brasil.

 Quanto ao idioma, fiz aulas de inglês quando era mais jovem e frequentava uma escola especializada, mas não tinha muita prática diária. Aqui no Brasil, não temos muitas oportunidades de falar inglês o tempo todo. Por isso, decidi usar o aplicativo Duolingo para relembrar o idioma e praticar um pouco todos os dias. Além disso, pude treinar meu inglês ao criar e apresentar meu trabalho. Isso me ajudou a praticar antes de realmente estar lá. Além disso, meu atual professor de inglês está morando nos Estados Unidos. Tive duas chamadas de vídeo com ele para treinar o idioma, o que foi muito útil. Uma vez que você está lá e se familiariza com o idioma, você vai se desenvolvendo e a conversação em outro idioma se torna mais natural.  

Quanto à criação e apresentação do trabalho, tive que conciliar minha rotina, pois faço estágio extracurricular à tarde e o estágio da faculdade de manhã. Foi necessário equilibrar essas duas atividades com a realização do TCC e a apresentação do trabalho. A professora Takao nos incentiva muito a participar de congressos e apresentações, o que é muito positivo e eu realmente gosto desse aspecto da área acadêmica.

Uma vez a professora Takao disse uma frase que me marcou: ‘’Na área acadêmica a gente estuda aquilo que a enfermagem pode ser, quando estamos na assistência a gente só vê o que a enfermagem é em um contexto específico’’. Dependendo do contexto, a enfermagem pode assumir várias formas. A área acadêmica nos permite enxergar esse outro lado, explorar o que a enfermagem ainda pode ser pra nós.  

 

Observatório InEPE: O que vocês levam dessa experiência tanto na vida pessoal quanto na vida profissional? 

Orientanda Sophia: Na vida pessoal, conheci pessoas incríveis, algumas das quais nunca imaginaria conhecer. Às vezes, ficamos limitados em nossa bolha, cercados por amigos, trabalho e faculdade. No entanto, ao participar desse evento, tive a oportunidade de conhecer pessoas encantadoras com as quais mantenho contato até hoje, seja pelo WhatsApp ou Instagram. Essa interação é muito gratificante e traz paz ao coração, saber que conheci pessoas tão maravilhosas.

 Em relação à minha vida profissional, nunca havia considerado a área acadêmica como uma possibilidade real. No entanto, ao estar no evento, percebi que é uma oportunidade incrível. Fiquei empolgada e já estava falando sobre meu mestrado e doutorado. O congresso abriu meus olhos para essa outra realidade. Apesar de ser apaixonada pela assistência, especialmente na área hospitalar, o que mais me impressionou nesse grande congresso com pessoas importantes para a história da enfermagem, foi a compreensão do que a enfermagem pode ser.

A enfermagem pode ser assistencial em diferentes contextos, como hospitais e atenção primária, mas também pode ser acadêmica, abordando diversos temas. Não precisa se limitar a apenas um campo acadêmico, pois a enfermagem é acadêmica em várias áreas. Cada vez mais, percebemos que as pessoas estão se interessando por essa vertente. Seria importante que todos tivessem a experiência de participar de um congresso assim, para abrir os olhos para essa outra realidade. Enquanto algumas pessoas já têm afinidade com a área acadêmica, outras nunca sequer consideraram isso, como era o meu caso.

É fundamental termos acesso a esse tipo de experiência durante a graduação, para conhecermos todas as possibilidades que a enfermagem oferece, antes mesmo de nos formarmos. Dessa forma, conseguimos direcionar melhor o caminho a seguir em nossa carreira.

 

Observatório InEPE: Como você vê que a EPE/UNIFESP contribuiu/proporcionou essa experiência ? 

Orientanda Sophia: Bom, eu falo isso para ela com todas as palavras. Eu sou muito grata pela vida da Takao. Outro dia, logo após voltarmos da viagem, enviei uma mensagem para ela com o print da mensagem que ela me mandou no início ou final do ano passado, perguntando sobre a possibilidade de eu ir para Boston em junho de 2023. Quando decidi ir ao congresso do NANDA-I, fiquei emocionada. 

Quando ela me chamou para essa oportunidade, pensei: "Meu Deus, que responsabilidade!". Isso porque não levamos apenas o nome dela, mas o nome da Escola também. Uma instituição de ensino com uma história rica e um legado importante. Eu, com vinte e um anos, levando o nome de um local para outro país? No primeiro momento, fiquei em choque, pois é uma grande responsabilidade. Com o passar do tempo, comecei a me acalmar um pouco.

Inicialmente, comecei minha graduação em outra faculdade e estudei enfermagem lá por um mês e meio. Então, saiu a lista da UNIFESP e, nesse momento, tive muitas dúvidas sobre qual caminho seguir. Afinal, a faculdade particular ficava muito perto da minha casa, assim como o hospital escola. Eu já tinha construído laços de amizade por lá, então ir para a UNIFESP significaria deixar tudo isso para trás. No entanto, era a UNIFESP. Como poderia deixar essa oportunidade passar? Se eu não tivesse feito essa escolha há quatro anos - já faz quatro anos! - não teria tido a oportunidade de vivenciar um congresso internacional. Alguns amigos que permaneceram na outra faculdade não tiveram a chance de se apresentar em congressos. Isso é algo que não é comum em outras faculdades. A UNIFESP nos possibilita verdadeiramente entrar no mundo, sempre impulsionando-nos na pesquisa, em trabalhos acadêmicos, nos programas de bolsa. Isso simplesmente não acontece em outras instituições. Nós podemos mudar a vida de alguém por meio de uma pesquisa. Nossas pesquisas não são em vão, elas sempre nos levam a algum lugar, seja para mudar a vida do paciente, melhorar a qualidade de vida ou influenciar a forma como ele se enxerga na sociedade. É algo muito especial ter a oportunidade de levar o nome de uma escola com tanto legado e tantas histórias. Foi um momento extremamente especial, e sou imensamente grata à UNIFESP por ter me proporcionado essa experiência.

 

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Profª Camila Takao Lopes e a orientanda Sophia Rossetto em frente ao pôster apresentado no 50º aniversário da NANDA-I no Boston College, nos EUA.