No mês de combate ao câncer de mama, a equipe do Observatório Institucional de Enfermagem conversou com a Profa Dra Camilla Pontes Bezerra  sobre a atuação da graduação e a residência em enfermagem no combate ao Câncer de Mama.

 

Foto de rosto

A professora Camilla é docente da Escola Paulista de Enfermagem - UNIFESP e membro do departamento de Enfermagem na Saúde da Mulher.

 

Observatório EPE:  Professora, conte para nós sobre a sua perspectiva da atuação no Outubro Rosa na atenção primária.

Professora Camilla: O mês de Outubro já é conhecido mundialmente como um mês marcado por ações afirmativas relacionadas à prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama. O movimento, conhecido como Outubro Rosa, é celebrado anualmente desde os anos 90. O objetivo da campanha é compartilhar informações sobre o câncer de mama e, mais recentemente, câncer do colo do útero, promovendo a conscientização sobre as doenças, proporcionando maior acesso aos serviços de diagnóstico e contribuindo para a redução da mortalidade. O câncer de mama é a primeira causa de morte por câncer na população feminina em todas as regiões do Brasil, exceto na região Norte, onde o câncer do colo do útero ocupa o primeiro lugar.  A doença geralmente se manifesta através de um nódulo irregular, duro e indolor. A pele da mama pode ficar avermelhada, com alterações no mamilo e saída espontânea de líquido. Toda mulher com 40 anos ou mais de idade deve procurar os serviços da rede atenção primária à saúde (um ambulatório, centro ou posto de saúde) para realizar o exame clínico das mamas anualmente, além disso, toda mulher, entre 50 e 69 anos deve fazer pelo menos uma mamografia a cada dois anos. O serviço de saúde deve ser procurado mesmo que não tenha sintomas! O exame clínico das mamas poderá ser realizado por médico ou enfermeiro treinado para essa atividade.
Neste exame poderão ser identificadas alterações nas mamas. Se for necessário, será indicado um exame mais específico, como a mamografia. A mamografia é um exame muito simples que consiste em um raio-X da mama e permite descobrir o câncer quando o tumor ainda é bem pequeno. Se uma pessoa da família – principalmente a mãe, irmã ou filha – teve essa doença antes dos 50 anos de idade, a mulher tem mais chances de ter um câncer de mama. Quem já teve câncer em uma das mamas ou câncer de ovário, em qualquer idade, também deve ficar atenta. As mulheres com maior risco de ter o câncer de mama devem tomar cuidados especiais, fazendo, a partir dos 35 anos de idade, o exame clínico das mamas e a mamografia, uma vez por ano. O exame das mamas realizado pela própria mulher, apalpando os seios, ajuda no conhecimento do próprio corpo, entretanto, esse exame não substitui o exame clínico das mamas realizado por um profissional de saúde treinado. Caso a mulher observe alguma alteração deve procurar imediatamente o serviço de saúde mais próximo de sua residência. Mesmo que não encontre nenhuma alteração no auto-exame, as mamas devem ser examinadas uma vez por ano por um profissional de saúde! Ter uma alimentação saudável e equilibrada (com frutas, legumes e verduras), praticar atividades físicas (qualquer atividade que movimente seu corpo) e não fumar. Essas são algumas dicas que podem ajudar na prevenção de várias doenças, inclusive do câncer.

Observatório EPE: O que você pode nos contar sobre o trabalho do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica e o Grupo de Estudos em Enfermagem Obstétrica no Outubro Rosa?

Professora Camilla: Os residentes do Programa de Enfermagem Obstétrica atuam na atenção primária e na prevenção dos cânceres de colo de mama e do colo do útero durante todo o ano. Essas ações são intensificadas durante a campanha do Outubro Rosa.

Os residentes realizam ações de educação em saúde sobre a promoção e prevenção da saúde da mulher, prevenção ao câncer de mama e ao câncer de colo do útero, consultas de enfermagem, coleta de exames citopatológicos e solicitação de mamografia.

Todos os docentes e técnicos-administrativos em educação (TAEs) do Departamento de Enfermagem na Saúde da Mulher (DESM) são tutores do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica. A coordenação do Programa de Residência é composta pela Profa Kelly Coca (coordenadora) e por mim (vice-coordenadora). São realizados estudos voltados para pesquisa e ensino na área de prevenção do câncer de mama e do colo do útero.

Os graduandos atuam junto à Liga de Enfermagem em Ginecologia e Obstetrícia (LEGO) durante o Outubro Rosa promovendo discussões importantes em relação à prevenção dos cânceres de mama e do colo do útero. A Liga tem um canal no Instagram (@legounifesp). Ela é composta por alunos por ser uma liga acadêmica e possui como preceptoras as docentes Karla Marcacine e Danielle Janzen. Os graduandos também têm a oportunidade de realizar ações assistenciais e de educação em saúde durante a unidade curricular de Saúde da Mulher e Reprodutiva I, que ocorre no terceiro ano do curso.

O Grupo de Pesquisa Centro de Estudos em Enfermagem Obstétrica (CENFOBS) e o Grupo de Ensino e Pesquisa em Pós-Parto e Aleitamento Materno (GEPAM) são vinculados ao DESM e cadastrados no CNPq, sob as coordenações das docentes Cristina Gabrielloni, Márcia Barbieri e Erika Vieira. Os grupos se reúnem conjuntamente para realizar discussões acerca de temáticas relacionadas à saúde da mulher. Participam dos grupos de estudos os docentes e TAES do DESM e de outros departamentos da Escola Paulista de Enfermagem, profissionais de saúde, mestrandos e doutorandos. Também são realizados estudos voltados para pesquisa e ensino na área de prevenção do câncer de mama e do colo do útero.

Observatório EPE: Você trabalha bastante com mulheres cegas, e gostaríamos de saber sobre a sua perspectiva sobre a acessibilidade dessas mulheres no Outubro Rosa.

Professora Camilla: Atualmente tenho exercido uma atividade expressiva junto às instituições que atendem pessoas com deficiência. Trabalho com a extensão, a pesquisa e a qualificação da assistência por meio de alunos de PIBIC, com pesquisas financiadas pelo CNPq.

Coordeno o projeto de extensão intitulado “Mulheres em ação pela saúde, cidadania e inclusão”. Desenvolvemos atividades de educação em saúde para mulheres com deficiência. Na última orientação de graduação, uma estudante investigou o conhecimento de adolescentes cegas em relação aos métodos contraceptivos e às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Os resultados permitiram perceber que as adolescentes cegas apresentam as mesmas características de desenvolvimento da sexualidade das demais pessoas, embora possuam características próprias. Está presente o desconhecimento sobre métodos contraceptivos e ISTs, sendo as informações superficiais. Reflete-se que para gerar uma cultura de promoção da saúde é imprescindível que o conhecimento se faça de forma acessível para esta população.  

Desta forma, almejamos agora desenvolver tecnologias assistivas (materiais acessíveis a esta população) relacionados aos métodos contraceptivos, ISTs, cânceres de mama e do colo do útero, com o intuito de aumentar o nível de conhecimento dessas pessoas sobre tais doenças.

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Residentes do Programa de Enfermagem Obstétrica em ação do Outubro Rosa de 2022.