No dia 01 de outubro foi comemorado o Dia Nacional do Idoso e Internacional da Pessoa Idosa. Em 2003 foi assinada a Lei n° 10.741  que dispõe sobre o Estatuto da Pessoa Idosa. De acordo com este Estatuto são consideradas "pessoas idosas" aquelas com idade igual ou superior a 60 anos, garantindo a elas todos os direitos fundamentais, assegurando prioridade no acesso aos seus direitos e proteção. A criação dessa Lei vai ao encontro da realidade brasileira em que as pessoas estão vivendo cada vez mais. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a população idosa representa 14,7%, ou seja, 31,2 milhões de pessoas. Esses números têm a tendência de aumentar, visto que a população está vivendo mais e a taxa de natalidade está em queda.

 

Em virtude disso, o Observatório InEPE conversou com a Profª Drª Meiry Fernanda Pinto Okuno, do Departamento de Saúde Coletiva, que coordena a disciplina de Enfermagem Gerontológica, ministrada para os estudantes do 3º ano da graduação da EPE. Em sua trajetória acadêmica a professora em suas pesquisas estuda a população idosa. Ingressou como docente na UNIFESP em 2017 e desde então atua no ensino, pesquisa e extensão voltados para a temática. Atualmente ela é a tutora da Liga Acadêmica de Gerontologia e Geriatria Paulista (LAGGEP) tem caráter de ensino, pesquisa e extensão e pretende propiciar oportunidade ao graduandos com interesse na área no envelhecimento aprofundar seus conhecimentos e prática profissional. Além da Liga, a professora coordena o projeto de extensão RECREAR que visa estimular a socialização das pessoas idosas por meio de atividades recreativas, como jogos, leituras, oficinas de culinária, fotografia, origami, passeios guiados, etc. As atividades eram desenvolvidas no  no Hospital São Paulo e atualmente acontecem na  UBS Vila Mariana. Por fim, ela também orienta alunos de graduação e pós-graduação em pesquisas na área da gerontologia, integrando o grupo de pesquisa Grupo Pesquisa de Epidemiologia, Revisão Sistemática e Políticas em Saúde.

 

“Eu sempre falo para os  meus alunos da enfermagem que  gostando ou não da área do envelhecimento, a população idosa, está cada vez mais presente nos espaços de cuidado (...) Então é importante entender as suas necessidades. Trabalhar com a população idosa nos permite refletirmos sobre o nosso próprio processo de envelhecimento." Para a profª Meiry as questões relacionadas ao envelhecimento humano deveriam ser abordadas desde a primeira infância e não apenas nos cursos de graduação da área da saúde, pois desta forma permitiria às pessoas pensarem t ao longo de sua trajetória  sobre o seu processo de envelhecimento permitindo que cheguem  com mais qualidade de vida na velhice.

 

Por essa razão, ela nos conta que vê muitos desafios a serem enfrentados tanto no curso de graduação em Enfermagem, quanto como tema para pesquisa e extensão. Segundo ela, a temática tem interessado cada vez mais alunos que desenvolvem seus trabalhos de conclusão de curso sobre o assunto. Mas é um desafio, por exemplo, a Unidade Curricular Enfermagem Gerontológica possui apenas carga horária teórica e ter carga horária prática nesta unidade curricular seria muito importante uma vez que essa população está presente na vida  profissional e pessoal dos alunos de graduação. 

 

Para ela a velhice é tida muitas vezes como o fim da vida. Mas ela ressalta que é importante compreender que essa é uma fase da vida. A pessoa idosa é munida de uma capacidade funcional, ou seja capacidade física e de autonomia que muitas vezes não é levada em consideração em virtude de questões de saúde ou relacionamentos interpessoais. Por isso, ela defende que é necessário desenvolver e divulgar conhecimento da área gerontológica; e ter contato com a população idosa para combater o idadismo.

 

Pensando nesse contato, o projeto RECREAR, criado em 2019 e coordenador por ela, realizou uma ação em 2020, logo no início da pandemia, quando não foi possível manter as ações de recreação do grupo no Hospital São Paulo. Assim, eles fizeram um convite aberto chamando as pessoas que seguem a página no Instagram para enviarem por e-mail cartas que seriam entregues a idoso em Instituições de Longa Permanência para pessoas Idosas (ILPI). Essa ação sensibilizou muitas pessoas à época, visto que o isolamento e a realidade pandêmica mexeu com o emocional de todos. Foram enviadas 157 cartas e o projeto conseguiu um grande alcance recebendo cartas de crianças do ensino fundamental do Colégio Marista Glória e do projeto Jaguaré Caminhos/CCA Bom Jesus - SP, além de uma carta enviada da Itália. O RECREAR encaminhou as cartas para: Cogitare Senior - Casa de Repouso Aclimação, Clínica Cherubins; e - Instituto Brasileiro Filhas de São Camilo. À época o projeto recebeu a doação de máscaras de tecidos que foram enviadas em conjunto com as cartas aos idosos de duas das três instituições.

 

As conquistas das ações saíram dos muros do Hospital e da Escola Paulista de Enfermagem e atingiram um público mais amplo do que somente profissionais e alunos da área da saúde, ponto esse defendido pela profª Meiry. Ela  explica que as transformações ocorridas nos últimos anos criaram demandas nessa área que necessitam de respostas, sendo um excelente campo para a inovação e empreendedorismo, como serviços  de estética, turismo, tecnologia, etc. Destaca que é importante  compreender que o envelhecimento não é igual para todos, assim, cada um envelhece de um jeito. E pensando na  Enfermagem o cuidado  deve ser individualizado buscando o respeito  às diferenças. 

 

Por fim, a professora nos alerta que há muito preconceito sobre a velhice e que é importante entendê-la  como uma fase e não como fim da vida.. São muitos desafios a serem enfrentados. Conforme ela disse: “mas o que é a vida sem desafios?”



Conheça os projetos desenvolvidos

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Referências

BRASIL. Assembleia Legislativa. Lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003. Lei Nº 10.741 de 01 de Outubro de 2003. Brasília, 03 out. 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em: 26 set. 2022.

Agência IBGE. População cresce, mas número de pessoas com menos de 30 anos cai 5,4% de 2012 a 2021. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/34438-populacao-cresce-mas-numero-de-pessoas-com-menos-de-30-anos-cai-5-4-de-2012-a-2021#:~:text=A%20popula%C3%A7%C3%A3o%20total%20do%20pa%C3%ADs,39%2C8%25%20no%20per%C3%ADodo.. Acesso em: 26 set. 2022.