O leite materno é a melhor maneira de garantir os nutrientes necessários aos recém-nascidos e proteger a criança de muitas doenças. Além disso, a doação de leite materno pode salvar vidas. Pensando nisso, o Centro Ana Abrão tem como objetivo oferecer suporte à puérpera desde a alta hospitalar até o 6º mês de vida da criança, realizando avaliação, orientações ao aleitamento materno e intervenções na presença de dificuldades.  

A visita foi recepcionada pela coordenadora do Ambulatório, a Profª Drª Kelly Pereira Coca e a assessora técnica, a enfermeira Cristiane Araújo. A professora Kelly possui um extenso currículo voltado para a Saúde da Mulher.  Ela é atualmente a Coordenadora do Centro Ana Abrão. Enfermeira graduada pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP (2001), especialista em Enfermagem Obstétrica pela UNIFESP (2002) e em Aleitamento Materno pela International Board Certified   Lactation Consultant - IBCLC (2008-2023). Também é mestre em Ciências (2013) e Doutora em Enfermagem (2013)   pela UNIFESP, e Pós-doutora pela La Trobe University, Austrália (2018-2019). Hoje, a profa. Dra. Kelly Coca é vice-líder do grupo de pesquisa do Grupo de Estudo no Pós-parto e Aleitamento Materno da UNIFESP, GEPAM, membro do grupo CENFOBS da EPE e orientadora do Programa de Pós-graduação da Escola Paulista de Enfermagem - UNIFESP (dezembro de 2018 - atual). Também atua como docente e vice-chefe do Departamento de Enfermagem na Saúde da Mulher da Escola Paulista de Enfermagem, DESM - EPE / UNIFESP(2013- atual) e é Diretora do Centro Ana Abrão: assistência, ensino e pesquisa em AM e BLH.

Por fim, nós também conversamos com a aluna de Enfermagem Luísa Bottoni Corrêa. Aluna do último ano do curso que está realizando seu estágio optativo no Centro Ana Abrão e é supervisionada  pela profa Dra Kelly Coca e tutorada pela enfermeira Cristiane Araújo.

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Foto: Beatriz Reis

Julia D’Arienzo: Como começou o serviço?

Profa Kelly: Começou com um grupo de professores sob a coordenação da professora da Profª Drª Ana Abrão, em meados de 1999. A ideia surgiu do reconhecimento da importância do aleitamento materno. 

O início dos atendimentos se deu no Centro de Assistência e Educação em Enfermagem (CAENF) entre 2001 e 2002. O espaço do CAENF era utilizado para atender as mulheres após a alta hospitalar.  A criação de um ambulatório próprio se deu em 2003, no qual fui enfermeira do serviço, na época chamado de Centro de Incentivo e Apoio ao Aleitamento Materno e Banco de Leite Humano - CIAAM/BLH. Em 2005, o Centro Ana Abrão ampliou seu trabalho com a inclusão do Ambulatório da Nutrição complementar saudável, coordenado pela nutricionista Luciola Sant’Anna e, em 2019 do Ambulatório Alínea Saúde Mental Perinatal, coordenado pela profa. Dra Erika Vieira Abuchaim. Em 2013, foi criado o Posto de Coleta LH no Hospital São Paulo e em 2014 houve uma ampliação do espaço que hoje abriga o serviço. Minhas atividades no serviço tiveram início desde sua criação, com maior envolvimento na gestão a partir de 2016 quando assumi a coordenação do Centro Ana Abrão.

 

Julia D’Arienzo: Qual é o papel da enfermagem e a relação do Centro Ana Abrão com a Escola Paulista de Enfermagem?

Profa Kelly: O aleitamento é multiprofissional, ou seja, envolve profissionais de diversas áreas incluindo nutricionistas, psicólogos, pediatras, profissionais da obstetrícia, etc. Mas o enfermeiro e a enfermeira foram sempre pioneiros no Centro Ana Abrão, liderando o grupo de profissionais e funcionários envolvidos.  

 

Beatriz Reis: Queríamos saber sobre a participação dos alunos da enfermagem, como que eles chegam até o Centro. A Cristiane comentou sobre a sua presença e queríamos saber como você veio fazer o estágio?

Luísa Corrêa: O estágio que eu realizo aqui é o estágio curricular supervisionado, nosso último estágio. Eu comecei o estágio a pouco tempo. A entrada é feita por meio de uma análise curricular, de acordo com a nossa nota e a área que escolhemos para atuar. A minha tutora é a enfermeira Cristiane, que me acompanha em todas as atividades de perto e eu atuo de acordo com o que ela me passa, como por exemplo, agora estou cuidando dos relatórios de atendimentos.

 

Beatriz Reis: A professora Kelly é coordenadora do Grupo de Ensino e Pesquisa em Pós-parto Aleitamento Materno, e é um dos grupos que mais possuem alunos de graduação dos que estão ativos e vinculados à EPE. Ocorre atuação do grupo no centro? Se sim, como?

Cristiane Araújo: Consideramos os estudantes de vários locais e áreas de conhecimento e temos muita procura pelo tema. Os alunos da graduação podem entrar no Ambulatório solicitando visita técnica ou realizando o estágio optativo, que não é vinculado ao grupo de estudos. Atualmente, tem uma aluna do quarto ano estagiando no centro Ana Abrão. Também recebemos os alunos de residência de Medicina (R1 e R2). Os alunos do primeiro ano atuam primeiro no posto de coleta dentro do Hospital São Paulo, onde eles recebem o aporte teórico e compreendem o funcionamento e no segundo ano eles vêm para o Centro para fazer as consultas com as pacientes. 

 

Julia D’Arienzo: E sobre a relação entre ensino/pesquisa/extensão?

Profa Kelly: Temos pós-graduandos bolsistas e até mesmo alguns graduandos que fazem estágio supervisionado no último ano da graduação. Também promovemos visitas guiadas para outras instituições e profissionais.  

 

Beatriz Reis: Existem muitos comentários positivos das pessoas que usam os serviços oferecidos pelo Centro Ana Abrão e gostaríamos de saber como vocês notam esse retorno das pessoas?

Cristiane Araújo: Sim, nós conseguimos perceber esse retorno positivo. Nós temos um trabalho muito motivador, nós recebemos muitos elogios das mães, principalmente quando nós conseguimos atingir o aleitamento materno exclusivo por 6 meses. Nós ficamos muito felizes. As mães chegam pra nós com aleitamento materno misto, ou seja, leite materno e leite de fórmula, ou, até mesmo com 100% de fórmula infantil, e conseguimos reverter a situação na maioria dos casos. Quando elas chegam até nós, o nosso trabalho é fazer com que elas consigam realizar a alimentação exclusiva do bebê com o leite materno conforme o desejo e o planejamento delas. 

 

Beatriz Reis: Bom, então o ideal é que a criança receba somente o leite materno até os 6 meses de vida?

Cristiane Araújo: Até os 6 meses o ideal é que o bebê receba somente leite materno decorrente dos diversos benefícios que oferece ao desenvolvimento da criança até o seis meses de vida e continuado até dois anos ou mais com a introdução da alimentação complementar saudável. Depois que o bebê completa 6 meses, as mães são encaminhadas para a nutrição onde é feito a introdução alimentar até um ano de vida, para que a criança tenha todo o acompanhamento necessário. Além disso, também faz parte da nossa equipe o atendimento psicológico e psiquiátrico.

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Foto: Beatriz Reis

Beatriz Reis: Os pilares de ação do centro envolvem: assistência, ensino, pesquisa e extensão. Quem são os profissionais responsáveis por cada área, quem mais atua em cada uma e como ocorrem as atividades ligadas de cada uma dentro do centro?

Cristiane Araújo: A coordenadora do ambulatório é a professora Kelly e ela tem um suporte meu, como enfermeira gestora que faço a coordenação na parte da assistência e da gestão dos recursos humanos. Trabalhando comigo tem a outra enfermeira, a Lucia, e nós fazemos um trabalho em conjunto. Além disso, temos duas técnicas em enfermagem que atuam no posto do Hospital São Paulo, mas quando necessário também trabalham no Ambulatório. A demanda no 8º andar do HSP é bem grande, então elas permanecem lá. Temos a Lucíola que é a gestora da área da nutrição, ela coordena a parte de planejamento da pasteurização e dos ambualatórios. Ela é apoiada por outra nutricionista. E também temos a técnica de nutrição, Rose, que apoia na coleta domiciliar e auxilia no processo de pasteurização. A Patrícia é a nossa assistente administrativa, responsável por todo o nosso atendimento, organização e recepção dos pacientes. E a responsável médica é a professora Cecília Draque, que realiza os atendimentos de retorno das crianças que nasceram no Hospital São Paulo. E ela também é responsável pelos residentes de medicina e pelos laudos de exame de sangue. E por fim a professora Erika Vieira, enfermeira e psicóloga, que atua na área de saúde mental com sua equipe.

 

Beatriz Reis: Nós acabamos de passar pelo “Agosto Dourado”, mês de conscientização sobre o aleitamento materno. Quais são as ações do centro sobre esse mês e qual a proposta de intervenção do Centro pensando no Agosto Dourado. 

Cristiane Araújo: Então, nós fazemos duas comemorações anuais. Em maio, o dia da doação de leite humano , então todo mês de maio nós fazemos celebrações e divulgação do nosso trabalho no Hospital São Paulo. Nós entregamos lembrancinhas para as mães e para os funcionários para estimular a divulgação e importância da doação, bem como o agradecimento das doadoras. Na última campanha distribuímos potinhos com chocolate e folhetos de  divulgação dos nossos serviços. Em agosto, mês de comemoração da semana mundial do aleitamento materno, Agosto Dourado, nós distribuímos folhetos pelo Hospital e divulgamos via Instagram para as doadoras e para toda a comunidade e também distribuímos os broches de lacinhos dourados. Colocamos um banner no posto de aleitamento materno. Antes da pandemia, no mês de agosto, o mês da doadora de leite materno, nós fazíamos uma reunião entre as mães doadoras e as mães que recebem o leite na UTI. A ideia é que esses encontros sejam retomados com a melhora da pandemia. 

 

Beatriz Reis: Vocês oferecem cursos, gostaríamos de saber sobre o que são e para quem?
Cristiane Araújo: É oferecido um curso de aleitamento materno, que atualmente é online. E o curso de laserterapia que foi suspenso durante a pandemia. Antes da pandemia o público do curso foi para médicos e enfermeiros com o foco para capacitar esses profissionais para realizar a laserterapia na amamentação. Enquanto isso, o curso de aleitamento materno é focado para profissionais da área da saúde. Ambos os cursos são coordenados pela professora Kelly. 

 

Julia D’Arienzo: Quantas pessoas em média vocês atendem? E como funciona o processo de doação de leite?

Profa Kelly: Atendemos cerca de 50 novas pacientes por mês, realizamos em média 600 consultas por mês e processamos em torno de 60 litros de leite por mês. A campanha de doação é feita através do site, redes sociais e whatsapp. As mulheres passam por uma triagem e uma vez aptas são autorizadas a extrair o leite. Geralmente, vamos até a casa delas para coletar o leite duas vezes por semana, mas elas também têm a opção de vir até nós. Temos atualmente quase 35 doadoras.

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Beatriz Reis: Quais são os tipos de atendimento que vocês realizam no Posto de Coleta de Leite Humano?
Cristiane Araújo: Existem quatro tipos de atendimentos:

1. Extração para o próprio filho internado no Hospital São Paulo. O leite é coletado no 8º andar do Hospital;

2. Extração de leite para as mães que estão internadas, mas o bebê está em casa. Ele também é realizado no Hospital e alguém retira e leva para o bebê;

3. Extração de leite das funcionárias que estão amamentando que pode ser realizado no Hospital ou no Ambulatório. O leite é armazenado e é retirado ao final do expediente;

4. Extração do leite da doadora em si.

IMG 5059 2 Editado 1 Foto: Beatriz Reis

Julia D’Arienzo: Qual é o impacto e contribuição para a sociedade?

Profa Kelly: O impacto na sociedade está no acolhimento das mulheres, que vai além da importância de um banco para processar o leite. Antes se supunha que as mulheres/mães “naturalmente” deveriam saber como alimentar as crianças, as pessoas reconhecem cada vez mais que a amamentação é aprendida e hoje isso mudou. Nós temos a função de ajudar essas mulheres e crianças promovendo a saúde e a prevenção de doenças, especialmente as crianças prematuras que estão em situação de maior vulnerabilidade.  

Além disso, o aleitamento é sustentável pois produz menos lixo já que essas mulheres não utilizam utensílios descartáveis de plástico e latas. Nós somos hoje uma referência e temos certificações que comprovam nosso impacto. Recebemos financiamento de empresas privadas e instituições nacionais e internacionais de fomento. 

WhatsApp Image 2022 09 23 at 10.44.41Foto: Julia D'Arienzo


site:  Centro Ana Abrão - Home (unifesp.br)

 

R. dos Otonis, 683 - CEP: 04025-002

Tels/Fax.: (11) 5576-4891

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ATENDIMENTO

Segunda a Sexta-Feira das 8h às 16h.

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