Prestes a completar 2 anos no dia 11 de setembro, o Ambulatório Conversas de Vida: Centro de Promoção de Esperança e Prevenção do Suicídio é uma cooperação entre o Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina (DPQ-EPM/Unifesp), a Escola Paulista de Enfermagem (EPE/Unifesp) e a Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM). 

“Existe especificidade em uma crise suicida” nos conta o Dr. Elson de Miranda Asevedo, psiquiatra e diretor clínico do Centro de Atendimento Integrado à Saúde Mental (CAISM/Unifesp e coordenador do ambulatório). "Não basta ser especialista em depressão ou esquizofrenia apenas, a vivência suicida é repleta de ambivalências e é preciso lidar com elas”. O programa oferece acolhimento com intervenção terapêutica multiprofissional, durante e após os momentos de crise. É uma estratégia interdisciplinar formada por residentes, professores, psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais e enfermeiros. Segundo o Dr. Elson, o projeto valoriza as competências individuais de cada membro da equipe e envolve todos os profissionais em um ambiente de apoio mútuo e afeto. 

 

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Equipe do Conversas de Vida. Da esquerda para a direita: Dr Adelman Azevedo, Dra Camila Quitério de Carvalho, Dr Felipe Muniz, Assistente Social Madalena Barbosa,  enfermeira Helga, Dr. Elson de Miranda Azevedo,  Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Mazzaia, e a estagiária do Curso de Psicologia da UNIFESP, Júlia Piva Larangeira. (Foto: Beatriz Alves Reis)

 

Motivação

Ainda segundo o Dr. Elson, o Conversas de Vida busca estruturar uma forma de atendimento que possa ser replicada, interferindo e ajudando na construção de políticas públicas. O Conversas de Vida promove acolhimento, formando aliança com o paciente, se debruça sobre a ambivalência e busca traçar um plano do que fazer para lidar com a crise. O dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suícidio. No Brasil, a campanha começou em 2015 com o objetivo de “conscientizar as pessoas sobre o suicídio, bem como evitar o seu acontecimento” (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios). Essa ação, contudo, não conseguiu regredir as estatísticas de mortes causadas pelo suícidio. Segundo o Dr. Elson, o suícidio é a principal morte em pessoas abaixo de 40 anos no Brasil. Muitas podem ser as explicações, mas ele ressalta dois pontos. 

No ponto de vista governamental,  as pessoas que buscam atendimento e ajuda na rede pública de saúde para questões de saúde mental e suicídio encontram uma desasistência voltada para essa área. Já na perspectiva de ensino, o médico acredita que existe uma ausência de investigações e estudos que foquem no problema suicida, principalmente pelas abordagens neurobiológicas, de ensino e no seu impacto na saúde pública. 

Portanto, o CAISM não está focado apenas na promoção de saúde mental, a estratégia adotada pela equipe é de trazer uma percepção preventiva e cuidado durante e após a crise, sendo essa uma das motivações para a criação do Ambulatório. Por isso, é importante atender o paciente, mas também dar atenção para os seus familiares e pessoas próximas em uma escuta empática. 

 

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 Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Mazzaia e Dr. Elson de Miranda Azevedo compartilham com a equipe do Observatório Insticucional da EPE um pouco da sua história. (Foto: Beatriz Alves Reis)

 

Quem pode buscar ajuda

Qualquer pessoa e de qualquer idade pode buscar ajuda.  A maior parte dos atendimentos é oferecida para pacientes que recebem encaminhamento do pronto socorro ou entram em contato por e-mail ou telefone após uma crise suicida.  Alguns serviços externos também entram em contato com o CAISM para transferir pacientes para o Conversas de Vida. Os atendimentos ocorrem às sextas-feiras.

Sobre participação da EPE no Conversas de Vida

No CAISM os alunos de graduação em enfermagem possuem duas frentes de atuação. A primeira são os estágios em práticas clínicas, divididas entre o ambulatório geral e na internação (de curta permanência). Enquanto isso, os alunos de residência multiprofissional, atuam na enfermaria e no Hospital Dia. A professora responsável pela coordenação de ensino é docente da Escola Paulista de Enfermagem e integrante do Departamento de Enfermagem Clínica Cirúrgica, Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Mazzaia. Seu ingresso na Unifesp ocorreu em 2012 e ela faz parte desde o início do Ambulatório Conversas de Vida. Segundo ela, a relação dos alunos com o CAISM é boa, mas pode se tornar ainda melhor. Por isso, ela acredita que com a implementação do Projeto de Vida como um projeto de extensão, outro pilar importante de atuação do CAISM em conjunto com a pesquisa e o ensino, os alunos têm maior possibilidade de atuação. No que diz respeito a pesquisa acadêmica, alguns alunos desenvolvem iniciação científica com bolsas (PIBIC e FAPESP). Além disso, o CAISM também recebe voluntários possibilitando a atuação desses alunos nos atendimentos. 

 

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 Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Mazzaia e a aluna de pós graduação e bolsista do Observatório EPE, Julia D'Arienzo. (Foto: Beatriz Alves Reis)

A história do CAISM

O Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental da Vila Mariana (CAISM VM) foi criado em 2018 através de um convênio entre o Governo do Estado de São Paulo e a Universidade Federal de São Paulo/SPDM e técnicos, porém, o prédio que reside o Centro é bem mais anterior a isso. 

Os primeiros donos do terreno que o prédio ocupa atualmente foram os irmãos paulinos, que chegaram a São Paulo em 1931. Anos depois o planejamento para a construção se iniciou “uma vez que o alvará de construção da primeira foi concedido pela prefeitura de São Paulo em agosto de 1938” (MARI, GADELHA, RODRIGUES, p. 38, 2022). Os religiosos permaneceram no edifício até 1957. No ano seguinte o governo do Estado concedeu a construção a utilidade pública, assim foi instalado o “hospital para ampliar a estrutura de atendimento público do Departamento de Assistência aos Psicopatas do Estado de São Paulo (DAP)” (Idem, 2022).
Esse foi o primeiro contato do local como referência à saúde. O objetivo era de que o local fizesse parte de uma “ampliação do número de leitos disponíveis para atendimento de casos agudos; pretendia-se que o Hospital Psiquiátrico da Vila Mariana comportasse 400 internos” (Idem, p. 40, 2022). Foram longos 38 anos de serviços hospitalares envoltos em debates, polêmicas e mobilizações até o fim de suas atividades em 1996. Em 1998, sob a administração da Irmandade Santa Casa de São Paulo, a instituição assumiu novas demandas sobre os cuidados com a saúde. Com a nova gestão da unidade hospitalar começaram os trabalhos do CAISM. O convênio com a  UNIFESP é recente, mas é de grande importância para a atuação de um serviço público de qualidade. 

Atualmente o CAISM oferta serviços acadêmicos e assistenciais à saúde mental da população. Hoje o CAISM é mais do que um hospital psiquiátrico. É um complexo de saúde mental com diversos serviços integrados: pronto-socorro psiquiátrico, Hospital Dia, internação, ambulatórios especializados - incluindo serviços de infância, adolescência, vida adulta e terceira idade -, psicoterapia, terapia ocupacional, serviço social, reabilitação profissional e neuromodulação.

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 (Fotos: Beatriz Alves Reis)

Referências

T318320. Setembro amarelo - mês da prevenção do suicídio. 2019. Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/informacoes/programas-projetos-e-acoes/pro-vida/dicas-de-saude/pilulas-de-saude/setembro-amarelo-mes-da-prevencao-do-suicidio. Acesso em: 09 set. 2022.

MARI, Jair de Jesus, GADELHA, Ary, RODRIGUES, Marly. A METAMORFOSE da saúde mental em São Paulo: uma história do CAISM Vila Mariana. São Paulo, SP: CAISM, 2022.